Comunicado oficial do Comitê Rodrigo Neto

O Comitê Rodrigo Neto acompanhou com atenção ao anúncio realizado nesta terça-feira (23), pela Polícia Civil, a respeito da elucidação de diversos crimes de execução cujas suspeitas recaíam sobre policiais civis e militares. Depois de anos de impunidade e desmandos, finalmente a sociedade do Vale do Aço ouve das forças de segurança pública que os responsáveis por diversas atrocidades estão sendo investigados, identificados e indiciados.

O anúncio desta semana traz dois sentimentos aos membros do Comitê Rodrigo Neto e demais jornalistas da região. O primeiro, evidentemente, de alívio, ao constatar que finalmente temos esperança de que justiça possa ser feita. Ao indiciar inúmeros policiais por crimes que aconteceram há anos, a Polícia Civil – por meio do comprometido trabalho realizado pela Força-Tarefa descolada de Belo Horizonte a Ipatinga para apuração dos casos envolvendo integrantes da corporação e da Polícia Militar – dá mostras claras de sua competência para elucidar crimes.

Por outro lado, a constatação pela própria polícia do que todos nós já denunciamos – especialmente o jornalista Rodrigo Neto – de que agentes de segurança foram responsáveis por tantos homicídios, até então impunes, também traz preocupação e revolta, em função da omissão de anos que custou a vida de tantas pessoas, entre elas dois repórteres, já que os assassinos sempre agiram sob a certeza da impunidade.

O Comitê Rodrigo Neto agradece, na pessoa do delegado Emerson Moraes, o trabalho realizado pela equipe da DHPP e aguarda ansiosamente a conclusão dos inquéritos, com a consequente completa elucidação, bem como o esclarecimento sobre a motivação e eventuais mandantes da morte do jornalista Rodrigo Neto.

Nossas próximas ações serão direcionadas para cobrar apuração das responsabilidades dos respectivos comandos das polícias, no âmbito regional, à época dos fatos. Afinal, as situações apontadas pela Força-Tarefa são gravíssimas – como menores assassinados após sair das dependências de uma delegacia, onde estavam custodiados, ou um falso policial com mandado de prisão em aberto circulando dentro de viaturas e de delegacias sob a conivência de políciais, entre eles a própria chefia.

Na oportunidade, o Comitê Rodrigo Neto manifesta a confiança no senhor Governador do Estado de Minas Gerais, Antônio Augusto Junio Anastasia, que empenhou sua palavra na solução do caos instalado na área da segurança pública no Vale do Aço. Pela conduta demonstrada até então, acreditamos que Sua Excelência levará as investigações até as últimas consequências, ainda que seja necessário responsabilizar agentes públicos das esferas de comando das respectivas corporações.

Confiamos também na seriedade e celeridade do trabalho do Ministério Público e do Poder Judiciário para que o sistema penal funcione eficazmente e os culpados sejam denunciados, julgados e condenados, para trazer um pouco de alívio às famílias das vítimas de tantas atrocidades, e que consequente seja retomada a paz social e a confiança da sociedade no Estado de Minas Gerais.
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MP denuncia investigadores da Polícia Civil por duplo homicídio

Justiça acata também pedido de prisão preventiva contra os detetives Elton Pereira, Ronaldo Oliveira e Fabrício Quenupe, por evidências de participação nos assassinatos de lavadores de carros


IPATINGA – Três investigadores da Polícia Civil foram denunciados pelo Ministério Público (MP) por um duplo homicídio ocorrido em 2010, enquanto eram lotados na 1ª Delegacia Regional de Ipatinga. A acusação foi acatada pela juíza da 1ª Vara Criminal da Comarca de Ipatinga, Ludmila Lins Grilo, na semana passada. Ela ainda converteu as prisões temporárias dos acusados em prisões preventivas. 

Ronaldo de Oliveira Andrade, 40 anos; Elton Pereira Costa, 46 anos, e Fabrício de Oliveira Quenupe, conhecido como “Alemão”, 30 anos, foram denunciados pelo MP como os principais responsáveis pelas mortes do lavador de carros Marcos Vinícius Lopes de Oliveira, 18 anos, e Glauco Antônio Lourenço, de 22 anos. O crime foi descoberto no dia 10 de julho de 2010. As vítimas foram executadas com dois tiros na cabeça e os corpos encontrados nus e em avançado estado de decomposição. 

INVESTIGAÇÕES
Conforme as investigações feitas pela equipe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Belo Horizonte, no dia 25 de junho de 2010, no Córrego Boa Vista, localidade conhecida como Ipabinha, em Santana do Paraíso, os detetives Ronaldo, Elton e Fabrício desferiram diversos disparos de arma de fogo contra os dois jovens. 
O inquérito policial aponta que após as execuções, os detetives tiraram as roupas das vítimas como forma de dificultar a identificação dos corpos e ainda ocultaram os cadáveres. O caso foi reaberto quase sete anos depois pela força tarefa do DIHPP instalada em Ipatinga após as mortes do jornalista e radialista Rodrigo Neto, e do repórter fotográfico Walgney Carvalho. A equipe que investigou novamente o caso considerou que os investigadores acusados agiram com “animus necandi”, por meio cruel, por motivo torpe e com a utilização de recurso que dificultou a defesa das vítimas. 

DENÚNCIA
A denúncia do Ministério Público foi feita no último dia 27 de junho, juntamente com o pedido de prisão preventiva para os suspeitos do duplo homicídio. O MP justificou que a liberdade dos denunciados é uma ameaça à ordem pública, e acredita que eles e outros policiais civis podem fazer parte de um “grupo de extermínio” no Vale do Aço. “A liberdade dos mesmos por si só amedronta a população e macula a imagem da Polícia Civil Mineira”, diz trecho da denúncia que justifica o pedido de prisão preventiva ao judiciário. Os detetives encontram-se detidos desde maio deste ano na Casa de Custódia do Policial Civil em Belo Horizonte. 

PROVAS
Durante as investigações a polícia ainda conseguiu o depoimento de uma pessoa que contou que no dia em que Glauco e Marcos Vinícius estavam detidos eles foram submetidos a sessões de tortura. Conforme o depoimento, os investigadores chegaram inclusive a inserir agulhas debaixo das unhas dos presos. Outras testemunhas reconheceram o detetive Elton como sendo um dos plantonistas no dia do sumiço das vítimas. 
Outro fator que, segundo o MP, considera primordial para acusar os três investigadores é que nas imediações onde os corpos foram localizados foram encontrados projéteis e estojos do calibre 9 milímetros, de uso restrito das forças policiais e muito usados por agentes da Polícia Civil.
Ainda segundo laudo do Instituto Médico Legal, as agressões encontradas nos cadáveres são as mesmas descritas nos relatos do inquérito policial. Com isso, o MP entendeu que Glauco e Marcos Vinícius foram agredidos enquanto estavam custodiados na cela da Delegacia Regional de Ipatinga e não tem dúvida de que a prisão preventiva dos denunciados é necessária, “uma vez que o crime de homicídio é punido com reclusão e foi cometido com ‘animus’ doloso”, diz outro trecho da acusação do MP. “A materialidade e autoria estão demonstradas, pois estes são requisitos para a denúncia apresentada”, conclui o texto.


Outros policiais com preventiva decretada


IPATINGA – Pelo menos quatro dos dez policiais presos até o momento pelo Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa tiveram suas prisões temporárias convertidas em preventivas pela Justiça de Ipatinga. São eles: Jimmy Casseano, Leonardo Correa, José Cassiano Guarda e o cabo da Polícia Militar Victor Emmanuel Miranda de Andrade.
Estes agentes foram presos entre os dias 19 e 25 de abril e são suspeitos de participação em crimes diversos. José Cassiano, por exemplo, é apontado como um dos envolvidos no caso que ficou conhecido como a “chacina de Revés do Belém”, onde os corpos de quatro jovens foram encontrados no distrito em 2011, já em estado de decomposição. A autoria do crime nunca foi esclarecida, mas os indícios de participação de policiais eram fortes. Já o militar Victor Emmanuel é tido como executor de uma série de assassinatos em Ipatinga iniciados há quase dez anos. Por diversas vezes, o cabo foi apontado como sendo o suposto justiceiro da moto verde, que matava pessoas ligadas à criminalidade em regiões periféricas de Ipatinga, mas a ausência de provas dificultou o seu indiciamento.
Além dos policiais que tiveram suas prisões preventivas decretadas, permanecem presos os agentes Ronaldo de Oliveira, Fabrício Quenupe e Elton Pereira da Costa (vereador eleito pelo PT em Santana do Paraíso), Lúcio Lírio Leal (que segundo as investigações teria participado diretamente do assassinato do jornalista Rodrigo Neto, em março deste ano), o sargento da PM Michel Luiz da Silva e o também militar Charles Clemencius Diniz Teixeira.
Entre os seis, Ronaldo, Fabrício e Elton estão presos desde maio e tiveram suas prisões temporárias prorrogadas no início de junho por mais 30 dias. Entretanto, de acordo com a Legislação brasileira, o período máximo para a prisão cautelar é de 60 dias, e este prazo vence na semana que vem.
A prisão dos três já foi convertida em preventiva pela 1ª Vara Criminal da Justiça de Ipatinga e a Polícia Civil aguarda a chegada do deferimento para até o início da próxima semana. Caso contrário, os civis poderão ser colocados em liberdade.
A prisão temporária é aplicada em casos onde o suspeito não tem residência fixa, comete algum tipo de crime hediondo ou quando a liberdade do suspeito pode interferir nas investigações do inquérito policial.
No caso das investigações do DIHPP, as prisões cautelares foram decretadas pelo entendimento de que os policiais ofereciam risco às testemunhas e poderiam atrapalhar o andamento das apurações.

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Sociedade espera solução para execução de jornalista

Alessandro Augusto Neves, o Pitote

Novas informações revelam que homem apontado como assassino possui fortes ligações com policiais e é tema de sindicância na PC


IPATINGA – Após 113 dias da morte do jornalista Rodrigo Neto, familiares, amigos e a imprensa regional aguardam a conclusão do inquérito da execução covarde sofrida pelo repórter em 8 de março. Na semana passada, a Polícia Civil, que investiga o caso, anunciou a prisão de dois suspeitos do crime e causou alvoroço ao afirmar que a elucidação estaria bem perto, assim como a apresentação de todos os envolvidos.
No entanto, a Polícia novamente silenciou sobre o caso e, ontem (27), o chefe da Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), Wagner Pinto, afirmou que não havia nenhuma nova informação sobre a execução de Rodrigo Neto. A notícia contraria o que havia sido informado pelo secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, e também pelo chefe da Polícia Civil mineira, Cylton Brandão, de que o caso já estaria em vias de ser concluído e a motivação do assassinato, revelada.
Na terça-feira da semana passada (18), a assessoria da Polícia Civil emitiu nota falando sobre a prisão de dois envolvidos na morte do radialista. Um deles é o investigador de polícia Lúcio Lírio Leal, de 22 anos, que atuava como policial em Ipatinga desde 2010 e nunca tinha passado por nenhum procedimento administrativo interno da instituição.
O outro preso é Alessandro Augusto Neves, de 31 anos. Segundo a própria assessoria da PC, o homem não possui profissão definida, mas tinha bom relacionamento com agentes e trânsito livre em delegacias, especialmente na cidade de Coronel Fabriciano.
Pitote, como o homem é conhecido, era visto com freqüência circulando pela Delegacia Regional de Ipatinga, no Centro, e na Delegacia Especializada de Coronel Fabriciano. Conforme informações dos próprios policiais, era próximo do detetive Elton Pereira da Costa, preso pelo Departamento de Investigação de Homicídios de Belo Horizonte, em maio por suspeita de envolvimento em homicídios investigados por uma força tarefa da capital mineira.
Alessandro aproveitava do contato com os agentes e também se passava por policial civil, participando inclusive de trabalhos externos  de investigação. No momento de sua prisão pelo assassinato de Rodrigo Neto, Pitote portava uma carteira falsa da instituição, o que fez com que ele fosse enquadrado também pelo crime de falsificação de documento.

SINDICÂNCIA
Uma sindicância foi aberta no ano passado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil para apurar a conivência de agentes com a permanência de Pitote entre os policiais. A situação é agravada devido à participação de Alessandro em algumas diligências realizadas pela PC com a presença de delegados. Entre os investigados, detetives da instituição e também o então delegado regional, João Xingó de Oliveira, que se aposentou em abril do ano passado após uma série de acusações de corrupção envolvendo seu nome.
A reportagem do COMITÊ RODRIGO NETO tentou contato com o ex-delegado, mas ele preferiu não se manifestar. Conversou também com os delegados que atuavam em Coronel Fabriciano, cidade em que Pitote teria “trabalhado” mais, no período em que o ele se passava por agente.
Daniel Araújo, transferido em junho do ano passado, afirmou que nunca conheceu Pitote no período em que esteve à frente da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio da cidade. Já Amaury Tomaz, delegado de trânsito de Coronel Fabriciano, confirmou que conhecia Pitote de vista, mas foi enfático ao dizer que o suposto assassino de Rodrigo Neto nunca trabalhou em sua delegacia. “Aqui eu garanto que ele nunca teve trânsito, nunca trabalhou comigo”, disse.
Outro delegado que trabalhava em Fabriciano no período em que o homem se passou por agente, Gustavo Cecílio, não foi encontrado para comentar o assunto.
O subcorregedor da Polícia Civil e chefe do 12º Departamento de Polícia de Ipatinga, Elder Dângelo, entretanto, disse acreditar que todos os agentes estavam cientes da situação de Pitote, bem como as chefias das delegacias. “Todos sabia quem era Pitote. Quem disser que não, está mentindo”, afirmou.
Alguns policiais ouvidos pelo COMITÊ RODRIGO NETO chegaram a levantar a hipótese de que Pitote fosse um funcionário emprestado de alguma instituição para a Polícia Civil, o chamado Ad hoc. Porém, esta possibilidade foi totalmente descartada por Elder Dângelo, que caracterizou Alessandro como um “nada, que vivia de favores dos policiais”. O subcorregedor informou que a sindicância continua tramitando na Corregedoria geral da PC, mas que o nome de João Xingó foi excluído do processo após a sua aposentadoria. Caso as investigações apontem falhas dos agentes, poderão haver punições como a repressão, suspensão ou multa – a conivência não é passível de expulsão.
Alessandro Augusto Neves permanece preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, para onde foi levado logo após ter sido preso em Ipatinga. Na ocasião, ele foi encontrado com uma arma de fogo com a numeração raspada, também sendo preso por porte ilegal de arma. Já Lúcio Lírio Leal, assim como os outros policiais civis presos, encontra-se na casa de custódia da própria instituição, localizada em Belo Horizonte.

MEDALHA
Na última terça-feira (25), os parlamentares de Coronel Fabriciano aprovaram por unanimidade, durante reunião ordinária no plenário, o projeto de resolução 531/2013, que cria a Medalha Rodrigo Neto. A honraria deverá ser concedida à instituições e personalidades que se destaquem na promoção e defesa dos Direitos Humanos. Uma audiência pública promovida pelo Comitê Rodrigo Neto para tratar o caso também deverá acontecer em breve no Legislativo fabricianense.
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Comoção marca ato de protesto pela morte de Rodrigo Neto

Ato público foi organizado pelo Comitê criado para cobrar elucidação do crime; morte de Walgney Carvalho também foi lembrada

Foto: Elianderson Lima



IPATINGA – Centenas de pessoas participaram na noite desta terça-feira (11) de um ato público para lembrar os 100 dias da morte do jornalista e radialista Rodrigo Neto, executado a tiros no dia 8 de março deste ano.  O movimento foi organizado pelo Comitê Rodrigo Neto, grupo de jornalistas criado para acompanhar e cobrar agilidade nas investigações do crime. É a segunda vez que o Comitê promove um evento desta natureza – o grupo havia realizado uma manifestação quando o assassinato completou um mês. Na ocasião, parentes e amigos de Rodrigo, além de dezenas de jornalistas, pediram por justiça nas ruas do Centro de Ipatinga.

Em clima de muita comoção, profissionais da imprensa e familiares de Rodrigo Neto, se reuniram no local onde aconteceu o crime: a avenida Selim José de Sales, em frente ao Churrasquinho do Baiano, de onde Rodrigo saía antes de ser morto. Os jornalistas do Comitê decidiram pelo protesto e também pela retomada das ações de cobrança por resposta para este e também outros crimes ocorridos no Vale do Aço.

O ato foi marcado por várias atividades, dentre elas a colocação de uma enorme cruz no local do crime. "A cruz vai ficar fincada aqui enquanto o crime não for elucidado", garantiu um jornalista organizador do protesto, que prefere não ser identificado. Para ele "a cruz é um símbolo forte para deixar bem claro que a população do Vale Aço não vai se calar enquanto o crime não apurado". Cruzes menores também foram fincadas no canteiro central da avenida Selim José de Sales e um grande cartaz com a foto do jornalista foi fixado no local. Também houve a distribuição de adesivos com a frase "Rodrigo Neto sua voz não vai se calar".



CARTA ABERTA

Os motoristas que passavam pelo trecho durante o protesto receberam uma carta aberta com a seguinte pergunta "Quem matou Rodrigo Neto?".  O panfleto faz uma série de questionamentos à Policia Civil, responsável pela apuração do crime. "Ouvimos eloquentes declarações de policiais e políticos sobre quão absurdo foi o assassinato de Rodrigo Neto e como sua morte representava um atentado à liberdade de expressão e ao livre exercício da profissão, inclusive ameaçando a própria democracia e o Estado de Direito", diz o informativo.

O ato também lembrou e questionou o assassinato do repórter fotográfico Walgney Carvalho, ocorrido pouco mais de um mês depois da execução de Rodrigo Neto. A Polícia Civil iniciou uma série de prisões de policiais civis e militares envolvidos em diversos crimes e chacinas no Vale do Aço. Questionam os jornalistas: "Por que a Polícia esperou tantos anos para prender os seus pares, apesar da existência de indícios, e em alguns casos até provas, de envolvimento direto de agentes de segurança pública em crimes tão bárbaros que aconteceram no Vale do Aço há vários anos? Por que tantos delegados regionais que passaram por aqui foram omissos, se diante de seus olhos policiais civis cometiam crimes na total certeza da impunidade?”

É nesse sentido que o Comitê Rodrigo Neto está agora direcionando sua mobilização. "Não descansaremos enquanto os assassinos de Rodrigo Neto e de Walgney Carvalho não forem descobertos e levados à prisão, e todos os policiais bandidos do Vale do Aço devidamente identificados, julgados, condenados e presos”, afirma a carta aberta do Comitê Rodrigo Neto.
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Quem matou Rodrigo Neto?

Morte de jornalista completa três meses sem resposta; autoridades policiais se recusam a falar sobre o andamento das investigações




IPATINGA – Três meses, mais três dias e uma pergunta: quem matou Rodrigo Neto? Depois de quase cem dias do assassinato do radialista da Rádio Vanguarda e repórter do Jornal VALE DO AÇO, o caso permanece sem respostas. Embora as autoridades policiais digam se empenhar na apuração do crime, com uma força-tarefa do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DIHPP) de Belo Horizonte, nada de concreto foi noticiado ainda quanto à elucidação do caso.



O assassinato de Rodrigo Neto provocou medo, insegurança, revolta e sensação de impunidade. A grande preocupação da imprensa, amigos e familiares é se esse seria mais um caso fadado a cair no esquecimento assim como muitos outros que o radialista cobrava para que fossem solucionados. Diante de acirradas cobranças, o DIHPP fez um apelo para que pudesse trabalhar em uma “zona de conforto”, pois só assim conseguiria chegar aos autores da execução do jornalista.



A trégua solicitada pela polícia foi concedida pelos órgãos de imprensa, mas tudo que se ouve até agora é que as investigações ainda estão em andamento e nada mais. Depois de quase um mês sem nenhuma movimentação, o Comitê Rodrigo Neto realiza nesta terça-feira (11), às 19h, um novo ato que irá lembrar os quase 100 dias da morte do jornalista. A manifestação acontece no local do crime, na avenida Selim José de Sales, na altura do número 1.000, em frente ao Churrasquinho do Baiano, de onde Rodrigo saía no momento em que foi morto pelo garupa de uma motocicleta.



O CRIME


Rodrigo Neto foi barbaramente assassinado no final da noite do dia 8 de março. Ele foi alvejado por três tiros quando entrava em seu veículo. Ao abrir a porta do carro, dois homens em uma motocicleta, usando capacetes, se aproximaram e dispararam friamente contra o repórter. Rodrigo foi atingido por um tiro na cabeça e outro no peito. Chegou a ser socorrido com vida e levado para o Hospital Municipal de Ipatinga, mas não resistiu aos ferimentos.  Rodrigo Neto era casado e deixou um filho de seis anos. Havia acabado de se mudar no dia anterior para uma nova residência e parecia feliz com o novo desafio profissional, agora como contratado não apenas da Rádio Vanguarda, mas também do jornal VALE DO AÇO, onde iniciara apenas uma semana antes. Ainda na redação, por volta das 21h, conversava com o editor sobre seus planos de vida. Seu objetivo, nos últimos anos, era tornar-se um delegado de polícia, e para isso já havia participado de dois concursos.



Desde a morte do jornalista, muitas manifestações, inclusive por organismos internacionais, foram feitas cobrando respostas mais rápidas para o caso. À época dos fatos, os delegados da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Gilberto Simão e Ricardo Cesari, anunciaram em coletiva à imprensa apuração séria do “Caso Rodrigo Neto”. No entanto, um dia depois a equipe da Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), coordenada pelo delegado Emerson Morais, de Belo Horizonte, assumiu a investigação e formou-se então uma força-tarefa não só para apurar o crime contra o repórter, mas também outros casos impunes que eram cobrados pelo jornalista.



O Comitê Rodrigo Neto cobrou insistentemente respostas para os assassinatos, mas por enquanto nenhuma conclusão foi divulgada Já no dia 12 de março, jornalistas do Vale do Aço criaram o Comitê Rodrigo Neto, para evitar que o trágico episódio caísse no esquecimento. De lá para cá, várias reportagens produzidas pelo comitê trouxeram de volta aqueles crimes sobre os quais o jornalista sempre cobrava incisivamente por punição.



Apesar da revolta, dor e medo, amigos, familiares e colegas de profissão não deixaram de participar da missa de 7º Dia de Rodrigo Neto, celebrada pelo Bispo emérito da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, Dom Lélis Lara. Em sua homilia, o religioso conclamou os presentes a fazerem algo para que o crime não ficasse impune. “Rodrigo Neto denunciava as coisas erradas, as maldades e os crimes. Então tinha gente interessada em eliminar este homem, pois ele estava atrapalhando a maldade”, destacou o sacerdote, que concluiu que “isto foi feito por pessoas que não têm temor a Deus”.



SEM POLÍCIA FEDERAL


Por telefone, na tarde desta segunda-feira (10), a assessoria de Comunicação da Polícia Federal em Belo Horizonte informou que até o momento o organismo não está na investigação do caso e sequer recebeu qualquer comunicado oficial sobre o ocorrido. Segundo o órgão, é necessário que as instituições responsáveis do estado encaminhem solicitação para que a PF aja, sendo que, por conta própria não há como isso ocorrer.







Fotógrafo freelancer teria sido morto por queima de arquivo




FABRICIANO – Não bastasse o choque da morte de “Rodrigo Neto”, os jornalistas tiveram que conviver com outro episódio trágico, poucos dias depois. Na esteira do primeiro crime, mais um profissional da área foi assassinado. No dia 14 de abril, foi executado a tiros o fotógrafo freelancer e colaborador do Jornal VALE DO AÇO, Walgney Assis Carvalho, 43 anos, mais conhecido como “Carvalho Loko”, supostamente por queima de arquivo. Carvalho foi morto em um pesque-pague de Fabriciano, local aonde ia com frequência. O autor do crime baleou-o pelas costas.

Há quase dois meses, o crime contra Carvalho também permanece sem respostas. Ele também atuava como fotógrafo voluntário da perícia da Polícia Civil há 16 anos. Especula-se que ele soubesse quem teria matado Rodrigo Neto, sendo morto por causa disso.  Muito falante, a alguns ele teria dito: “A polícia nunca vai descobrir quem foi” – como se estivesse certo de quem teria realizado o assassinato do repórter, embora não pudesse – ou não quisesse – revelar.
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CHACINA DE REVÉS DO BELÉM Parentes de adolescentes ainda esperam por justiça

Mães das vítimas temem represálias devido ao andamento das investigações feitas pela DHPP de Belo Horizonte

Menor executado com tiro na nuca

IPATINGA – O histórico de impunidade no Vale do Aço parece estar chegando ao fim. Na última sexta-feira (19) foram presos dois policiais civis suspeitos de envolvimento no desaparecimento de quatro adolescentes moradores do bairro Caravelas.
Os corpos de John Enison da Silva, de 15 anos; Nilson Nascimento Campos, de 17 anos; Felipe Andrade, de 15 anos, e Eduardo Dias Gomes, de 16 anos, foram encontrados na localidade de Revés de Belém, distrito da Caratinga no dia 30 de outubro de 2011. Eles estavam nus e com perfurações de disparos de arma de fogo na nuca.
Os mandados de prisão preventiva foram expedidos pela Justiça da Comarca de Caratinga contra o médico legista José Rafael Americano e o investigador José Cassiano Guarda. Eles foram levados para a Casa de Custódia da Polícia Civil, no bairro Horto, em Belo Horizonte.
As investigações estão sendo conduzidas pela equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de Belo Horizonte (DHPP). Segundo o delegado Wagner Pinto, o inquérito corre em sigilo, a exemplo também das investigações sobre a execução de Rodrigo Neto e Walgney Carvalho.

PARENTES
Para a aposentada Maria da Conceição Silva, de 68 anos, o neto era um menino desobediente. John Enison veio para Ipatinga, morar na casa da avó, depois que a mãe adoeceu.
A avó viu o neto pela última vez no dia 24 de novembro, quando esteve na 1° Delegacia Regional de Ipatinga para liberar o adolescente, que estava apreendido sob a acusação de tráfico de drogas.
Os quatro menores estavam na rua Lorena de posse de pedras de crack, segundo o boletim de ocorrências feito pela Polícia Militar. Maria deixou que o neto ficasse no Centro aguardando a liberação dos amigos Nilson, Felipe e Eduardo.
“Queria saber o que realmente aconteceu naquele dia. Tem um ditado que diz que quem deve, paga. Não desejava o mal para o Jonh, mas um destino diferente, porque ele era um menino inteligente”, lembrou.
Logo que os corpos foram encontrados em 30 de outubro, os familiares conseguiram identificar os adolescentes por tatuagens e marcas de nascimento.
Apenas o de Jonh Enison dependia de exame de DNA. No dia 4 de outubro, Maria da Conceição esteve com uma filha em Caratinga para recolher amostras de sangue para a identificação do quarto corpo, encontrado no matagal em Revés do Belém.
Nesta semana, a aposentada revelou ao Comitê Rodrigo Neto que nunca recebeu o resultado do exame. Por isso, os restos mortais de John Enison ainda estão enterrados no Cemitério de Revés do Belém como indigente.
“Se meu neto não estivesse na rua contaminada estaria agora com 17 anos, trabalhando para me ajudar. O que desejo dizer é que muitos não pagam nessa terra, mas pagam com Deus. Tomara que a justiça seja feita. No escondido tem muita gente e que faz barbaridade”, declarou a aposentada.
Ao final da entrevista Maria fez um apelo para que as autoridades mudem a realidade dos adolescentes. “Queria um jeito de dar apoio a essas crianças. Fazer uma internação e dar serviço a eles. Isso pode ajudar a consertar aqueles que são desobedientes, como era o meu neto”, lembrou.

COVARDIA

O mesmo sentimento de angustia é compartilhado por Maria Aparecida Gomes, de 52 anos, avó de Felipe Andrade. O neto veio de Governador Valadares para Ipatinga com o objetivo de comemorar o aniversário dela.
“A minha filha Valcilene não se conforma com a morte do Felipe. Isso é um sofrimento para uma mãe e uma dor que não tem fim. A saudade que a gente sente aumenta a cada ano. A mãe do Felipe chegou a dizer que se ficar cara a cara com quem matou o meu neto, ela é capaz de fazer justiça com as próprias mãos”, comentou.
Maria lembrou que os menores foram ameaçados na rua por um policial, mas não soube identificar de qual corporação. “Ouvi dizer que um dos policiais declarou abertamente que aquele seria o ultimo pulão que os meninos sofreriam”, citou a dona-de-casa, fazendo referencia à apreensão dos quatro menores por tráfico.
Quanto à prisão dos dois suspeitos de envolvimento na execução dos menores, que ficou conhecimento como Chacina de Revés do Belém, a família de Felipe se diz temerosa em função do envolvimento agentes de segurança.
“Tanto faz se foram presos, quero estar longe disso ai. Mexer com polícia é um perigo, dependendo do que acontecer pode ter vingança. O Deus a que sirvo é maior do que tudo isso e não vai deixar acontecer nada de ruim. Não quero que aconteça a alguém da minha família o mesmo que aconteceu com aquela menina do Cidade Nova. Ela abriu a boca e acabaram calando ela”, relembrou Maria Aparecida.
A dona-de-casa se referia à execução de Rafaela Miranda de Jesus, de 19 anos, ocorrida no dia 1º de maio de 2012, cerca de dois meses após ter testemunhado uma abordagem policial em Santana do Paraíso que culminou no desaparecimento dos garotos identificados como Jonathan, Vitinho, Luciano e Wesley.

ENTENDA O CASO
Os quatro corpos em avançado estágio de decomposição foram encontrados por funcionários da Cenibra, no dia 30 de novembro, em uma área conhecida como Lagoa Bonita - Talhão 5, nas imediações do município de Revés do Belém.
Os cadáveres estavam nus e apresentavam perfurações produzidas por disparos de arma de fogo na altura da nuca, o que indica execução. Próximo a um dos cadáveres foi localizadas uma carteira de trabalho e uma certidão de nascimento em nome de Helberton Semeão Moraes. Só que os documentos não pertenciam a nenhuma das vítimas já identificadas. Os cadáveres estavam em uma área de difícil acesso. Na região em que os corpos foram encontrados, já foram registrados outros casos de localização de cadáveres.
Os quatro adolescentes, entre 15 de 17 anos de idade, foram vistos pela última vez por familiares no dia 24 de outubro. Neste dia, eles foram abordados pela Polícia Militar e encaminhados para a Delegacia da Polícia Civil. Ao serem liberados por volta das 18h, um dos adolescentes apedrejou uma viatura de Polícia Civil. Foi a última vez em que eles foram vistos antes dos corpos serem encontrados.

ENVOLVIMENTO DE POLICIAIS
Em entrevista ao jornal Vale do Aço, do dia 2 de dezembro de 2011, o delegado Carlos Alberto Bastos, da Polícia Civil de Caratinga, não descartou a hipótese de envolvimento de policiais.
“Todos (Eduardo, Nilson, John Enison e Felipe) estavam envolvidos com drogas. Eles foram presos dias antes de serem encontrados mortos. A gente não sabe e pode ser que sim (que haja a participação de policiais). Vemos diariamente nos noticiários a atuação de milícias (muitas compostas por policiais) no combate ao crime. Isso não acontece só aqui e no Rio de Janeiro, tem ocorrido é em todos os cantos do nosso país. Mas, agora, quem vai apurar se policiais estão ou não envolvidos nessa chacina é a delegacia de Ipatinga”, declarou.
Ele disse que encaminharia o inquérito para a PC de Ipatinga, em função da maior facilidade nas investigações. Na época, o então chefe do 12º Departamento de Polícia Civil, Walter Felisberto, disse que uma das linhas de investigação era a de que policiais (civis ou militares) poderiam estar envolvidos no crime. Tanto ele como o então delegado regional João Xingó disseram à imprensa que solicitariam ao superintendente da Polícia Civil em Belo Horizonte, Celso Ávila, apoio de uma equipe da Divisão de Crimes contra a Vida para colaborar nas investigações, dada “a complexidade do caso”. O então delegado regional de Caratinga, Gilberto Simão, também afirmou que ia requerer que o inquérito fosse remetido à Delegacia de Homicídios da capital mineira.


Matéria elaborada pelo Comitê Rodrigo Neto.
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Desaparecimento de quatro jovens no Cidade Nova ainda sem solução

Vítimas foram abordadas e levadas em carro por policiais civis; principal testemunha foi executada


SANTANA DO PARAÍSO - Quatro jovens com idades entre 13 e 19 anos desapareceram sem deixar rastros no dia 29 de fevereiro de 2012, no bairro Cidade Nova, em Santana do Paraíso. Segundo uma testemunha, as vítimas estavam em uma casa fazendo uso de drogas e teriam sido abordadas por pelo menos três homens, sendo posteriormente levadas em um carro da Polícia Civil.

A testemunha concedeu entrevista ao jornal DIÁRIO POPULAR, no dia 7 de março de 2012, sem se identificar, temendo represálias. Mas não adiantou e Rafaela Miranda de Jesus, de 19 anos, foi assassinada no dia 1º de maio de 2012, cerca de dois meses após ter testemunhado o fato. Assim como o desaparecimento dos garotos, a morte de Rafaela ainda não foi desvendada pela polícia.

A jovem testemunha relatou que estava na residência com os garotos – identificados como Jonathan, Vitinho, Luciano e Wesley - quando um homem parou na porta e se identificou como policial civil. “Ele mostrou a arma, disse que era policial civil e pediu para que eu levantasse a blusa e depois me liberou”, contou a garota à reportagem.

Ainda segundo Rafaela, minutos depois, um carro preto, que ela identificou como da Polícia Civil, parou na porta. Dois homens desceram, entraram na casa, amarraram e levaram os jovens. “Vi quando eles colocaram os rapazes no porta-malas, mas não vi para onde foram”, relatou na reportagem publicada na edição de 7 de março.

Conforme noticiado pelo JORNAL VALE DO AÇO no mesmo dia, o tio de um dos rapazes desparecidos também teria presenciado a abordagem policial na casa onde eles estavam.

Raimundo Luiz de Andrade, de 39 anos, é pai de um dos garotos desaparecidos, na época o adolescente tinha 13 anos de idade. Na ocasião da primeira reportagem sobre o assunto, publicada no DIÁRIO POPULAR, ele já manifestava descrença em encontrá-lo vivo: “Pelo que a gente ouve falar, que as polícias (sic) pegam, levam e consomem, então não tenho muita esperança não. Mas que ele seja encontrado, vivo ou morto”, disse.

Na época do desaparecimento dos jovens, a reportagem do DIÁRIO POPULAR também conversou com os moradores do Cidade Nova, bairro que pertence a Santana do Paraíso, mas está localizado a apenas cinco minutos do centro de Ipatinga. Segundo narra a repórter, foi possível ouvir de moradores os nomes de alguns policiais que estariam envolvidos no sumiço dos meninos. Mas o medo impediu que eles se identificassem ou ao menos repetissem os nomes dos suspeitos, que costumavam intimidar os moradores locais.

MORTE DE RAFAELA

A principal testemunha do desaparecimento dos quatro jovens foi assassinada no dia 1º de maio de 2012. Rafaela Miranda de Jesus, 19 anos, estava em uma motocicleta junto com o seu companheiro, A.M.A., 38 anos. De acordo com o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, o casal trafegava pela BR-381 na altura do bairro Iguaçu, quando uma moto de cor escura, com a placa dobrada e dois ocupantes, emparelhou com as vítimas.
O carona sacou uma arma de fogo e efetuou vários disparos contra o casal. Rafaela foi ferida no pescoço e cabeça e morreu quando era socorrida pelo SAMU. O companheiro dela foi baleado no rosto e ombro, sendo levado para o Hospital Márcio Cunha.

INVESTIGAÇÕES

Entre as providências tomadas, foi instaurado um inquérito policial de responsabilidade da Delegacia de Santana do Paraíso. O caso foi assumido pela delegada Amanda Sfredo, que ouviu familiares e realizou diligências. Entretanto, a partir do dia 19 de março a Corregedoria Geral da Polícia Civil de Belo Horizonte avocou as investigações sobre o desaparecimento dos jovens. A notícia foi veiculada no DIÁRIO POPULAR no dia 22 março. “É um procedimento normal da Corregedoria quando há denúncias de envolvimento de policiais no caso”, disse Amanda à época. Ela também não descobriu de onde seria a viatura da PC vista pelas testemunhas.

Já no dia 12 de junho, a Corregedoria afirmou que não mais falaria sobre o caso dos jovens desaparecidos, nem mesmo divulgaria qualquer informação aos veículos de comunicação.

A reportagem do DIÁRIO POPULAR tentou, em diversos momentos, obter informações sobre o caso junto à Corregedoria, mas sempre recebeu a mesma informação: “o fato ocorrido em Santana do Paraíso permanece sob investigação e diligências estão sendo providenciadas, mas não serão divulgadas para não atrapalhar o andamento da investigação”.

No dia 25 de março de 2013, em novo contato com a Corregedoria, em Belo Horizonte, foi informado que o caso continua em apuração, que nenhuma linha de investigação está descartada e não há previsão de conclusão do inquérito.


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NOTA DE REPÚDIO


O Comitê Rodrigo Neto vem a público manifestar perplexidade e indignação com as declarações do subsecretário de Defesa Social, Daniel de Oliveira Malard, em relação às medidas de segurança que devem ser tomadas pelos jornalistas, “tais como o fazem juízes e policiais”.

Ao transferir a responsabilidade da segurança dos profissionais da imprensa aos próprios jornalistas, o Estado mais uma vez dá mostra da fragilidade do sistema e descontrole sobre as forças de segurança do Vale do Aço.

É importante destacar que promotores, juízes e policiais, ao contrário dos jornalistas, têm porte de arma, treinamento especializado e escolta policial, se solicitada.

Se diante da execução de dois repórteres ligados à área policial, o Estado não é capaz de garantir a liberdade de imprensa e o exercício democrático e constitucional da profissão, o Comitê Rodrigo Neto solicita, mais uma vez, o apoio e intervenção da Polícia Federal e do Ministério da Justiça.



Comitê Rodrigo Neto
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CARTA À POPULAÇÃO

A execução do repórter-fotográfico Walgney Assis Carvalho, conhecido como Carvalho, freelancer do jornal "Vale do Aço”, instalou o terror entre os jornalistas do Vale do Aço. Diante do cenário de impunidade e da falta de segurança, os profissionais de imprensa estão perplexos e temerosos sobre quem pode ser a próxima vítima, já que desde o assassinato de Rodrigo Neto nenhuma medida foi tomada para responsabilizar e prender os culpados, o que torna todos, indistintamente, alvos fixos na alça de mira dos assassinos.
A situação torna-se ainda mais crítica se analisada sob o ponto de vista do cerceamento da liberdade de expressão, impondo o silêncio à bala, porque é um atentado explícito ao Estado Democrático de Direito, sem que as autoridades esbocem qualquer reação para impedir tamanha violação. Historicamente, sob o domínio do medo, os povos assistiram silenciosos a aurora dos regimes totalitários, o surgimento das ditaduras, o extermínio de povos inteiros. Claro, antes silenciaram os jornalistas. No Vale do Aço, estamos tendo um exemplo de como isso acontece. Trata-se de uma zona conflagrada, tanto quanto enclaves em guerra civil. Mata-se um, nada acontece, não há punição, o tempo passa – e nem precisa ser muito tempo –, mata-se outro, e por aí vamos, de tragédia em tragédia até a tragédia final. Todos assistindo passivamente, impotentes, fracos diante dos criminosos. Ninguém está seguro.
O Estado que nos cobra compulsoriamente os impostos do nascimento à morte não serve sequer para nos dar a segurança necessária para trabalhar na construção da sociedade livre e democrática que precisamos ter. Ao contrário, em muitos casos, treina e arma os assassinos que continuam à solta, sob a sua tutela.
Agora, o que se discute não é mais o motivo dos assassinatos. É até quando eles vão continuar impunes. É quem vai garantir a segurança dos jornalistas que precisam trabalhar para manter a sociedade informada.
Se o Estado não perdeu o controle da situação no Vale do Aço, onde os assassinatos de jornalistas e cidadãos comuns ocorrem quase diariamente e permanecem na impunidade, que as autoridades digam e demonstrem na prática quem está no controle da situação.
Nós, jornalistas e comunicadores, aterrorizados, psicologicamente arrasados com a situação e temerosos em ter que continuar a escrever os fatos com sangue de nossos pares, exigimos respostas, proteção e segurança. 

COMITÊ RODRIGO NETO
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Seis anos depois, duplo homicídio em padaria ainda está sem punição

José Maria (esquerda) e Diunismar Vital Ferreira (direita) foram mortos por uma dupla de motociclistas em 8 de fevereiro de 2007

O mecânico Diunismar Vital Ferreira e o instalador de máquinas José Maria foram baleados por dois homens em uma motocicleta; inquérito tramitou na 1ª Vara Criminal e passou pelas mãos do Ministério Público oito vezes até ser devolvido à Polícia Civil


IPATINGA – Passados mais de seis anos desde a execução do mecânico Diunismar Vital Ferreira, 41 anos, mais conhecido como Juninho, e do instalador de máquinas José Maria, 58 anos, o crime ainda está em investigação.
Os dois homens foram mortos por uma dupla em uma motocicleta no dia 8 de fevereiro de 2007, com o mesmo ‘modus operandi’ em que o jornalista e bacharel de Direito Rodrigo Neto de Faria foi assassinado em 8 de março deste ano.
Em seu trabalho investigativo o repórter trabalhou para que o duplo homicídio não caísse no esquecimento e os culpados fossem punidos. O inquérito policial do crime tramitou na 1ª Vara Criminal de Ipatinga.
Consulta feita no site do Tribunal de Justiça apontou que o processo esteve pelo menos oito vezes no Ministério Público entre março de 2007 e agosto de 2011, quando os autos foram remetidos novamente à Polícia Civil. Só que dessa vez para uma Delegacia no município de Venda Nova, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde o caso permanece sem elucidação.
Diunismar e José Maria estavam sentados em uma mesa do lado de fora da Padaria Guerra, na avenida Macapá, bairro Veneza I, quando foram surpreendidos pelos assassinos.

O CRIME

O mecânico tomava uma cerveja e comia uma porção na companhia de José Maria quando o homem que estava na garupa da moto desceu e abriu fogo contra os dois.
Juninho foi alvejado com quatro disparos de uma pistola semi-automática calibre 380. Já o instalador de máquinas pode ter sido morto como queima de arquivo, pois viu de perto o executor de Diunismar.
Após ser baleado o mecânico tentou se esconder do atirador dentro da padaria, mas caiu nos fundos do estabelecimento. Ele chegou a ser socorrido com vida por uma ambulância do SAMU até o Hospital Márcio Cunha.
José Maria apesar de ter sido alvejado apenas uma vez morreu durante um procedimento cirúrgico. No local, ficaram as marcas dos tiros nas vidraças, nos produtos e também nos móveis.

TESTEMUNHAS
“Ninguém sabe de nada, porque foi tudo muito rápido, todos nós corremos na hora do tiroteio. Nunca vi isso na minha vida”, disse uma das funcionárias padaria na época à reportagem do Jornal Vale do Aço.
O tenente José Monteiro disse que os policiais recolheram na calçada e no interior da padaria 10 cápsulas deflagradas de pistola semi-automática calibre 380 e ainda um projétil. “Realizamos buscas na cidade, mas sem sucesso na prisão da dupla. Todo mundo que a gente conversou não soube dar a características dos autores ou do veículo”, disse o militar na ocasião.

MOTIVAÇÃO
Depois do bárbaro homicídio, os familiares de Juninho relevaram que o mecânico tinha problemas com várias pessoas, em especial com um capitão da PM que teria feito ameaças a Diunismar em função do envolvimento deste militar com a namorada do mecânico à época.
Foi possível apurar ainda que havia um processo na Justiça envolvendo o policial e o mecânico. Testemunha ouvida pela reportagem do Jornal Vale do Aço disse que a namorada de Diunismar esteve na padaria momentos antes do duplo homicídio. A mulher discutiu com a vítima e depois foi embora.

AMEAÇAS
Dias antes de morrer, Juninho confidenciou à sua ex-mulher que tinha recebido ameaças de morte. “Não gostaria de falar sobre o que pode ter ocorrido, mas a última vez que o vi, estava com medo e falando na possibilidade de ser morto”, comentou a mulher.
Já para amigos próximos, Diunismar chegou a pedir refúgio para se esconder. Ele ficou abrigado por mais de 30 dias em um quarto na casa de um conhecido por temer pela sua segurança.
Diversas vezes o mecânico comentou sobre ameaças feitas pelo militar. Diunismar morava em um apartamento na avenida Macapá junto com a namorada, quase em frente à padaria onde ele foi morto. A relação deles era tumultuada. O triângulo amoroso teria durado mais de três anos até Juninho ser morto.

LUGAR ERRADO
O instalador de máquinas José Maria pagou com a vida por estar na companhia de Juninho. O homem estava em Ipatinga a trabalho havia alguns meses, mas morava no bairro Granja Verde, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A filha dele, Maria Aparecida Santos, foi quem esteve na cidade para liberar o corpo do pai. Ela comentou que José Maria criou os nove filhos e não tinha desavença com ninguém. Ele viajava por todo o estado reformando postos de combustíveis.
“Ele estava há pouco tempo em Ipatinga e surge esta pessoa que o matou sem ele dever nada. Perdi meu pai, mas acima de tudo um amigo. Gostaria de falar para este assassino que nos tirou o pai, que confio muito em Deus. Sei que Ele vai cobrar esta injustiça contra uma pessoa de quem todos gostavam”, declarou Maria Aparecida.

TENTATIVA
Após duas semanas da execução de Diunismar, o irmão dele Márcio Vital Ferreira sofreu uma tentativa de homicídio. O fato aconteceu no dia 20 de fevereiro no quilômetro 17 da MG-232 em Santana do Paraíso, próximo a Cachoeira do Bela Vista.
A vítima relevou que dirigia seu carro quando outro veículo emparelhou com o seu e um homem abriu fogo contra ele. Márcio apontou Daniel Silva Araújo como o autor dos tiros, mas não soube informar aos policiais o motivo do atentado.
Inicialmente a Polícia Civil trabalhou com a hipótese de que haveria ligação entre a tentativa e a execução de Diunismar. Mas, as investigações feitas pela delegada Adeliana Xavier apontaram que Daniel teve uma desavença com Márcio em função de um som automotivo.

LIGAÇÕES PERIGOSAS
A prisão de Daniel pelo atentado também ajudou na elucidação de outro crime, a morte da missionária Anelise Teixeira, encontrada morta as margens da Lagoa Silvana em 17 de janeiro por pescadores. Ele apontou um cabo da Polícia Militar como responsável pelo homicídio.
A família de Diunismar foi alvo de um terceiro crime, quando um outro de seus irmãos, que trabalhava como mototaxista, foi assassinado. Durante vários anos, Diunismar lutou para que a justiça fosse feita neste caso. Ele vivia em peregrinação pelas delegacias, fórum e jornais da cidade, em busca de uma resposta para o crime.


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Manifestação marca os 30 dias da execução do jornalista Rodrigo Neto

Uma manifestação realizada na tarde desta segunda-feira (08), no centro de Ipatinga, marcou os 30 dias da execução do jornalista Rodrigo Neto de Faria. Depois de uma concentração na Praça 1º de Maio, diversas pessoas saíram numa caminhada até a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Ipatinga.



Articulado pelo Comitê Rodrigo Neto, o movimento reuniu profissionais da imprensa, colegas de trabalho, amigos e familiares do jornalista, que trabalhava na Rádio Vanguarda AM e Jornal Vale do Aço. Também bacharel em Direito, Rodrigo abordava em suas matérias crimes não solucionados pela polícia.



Alvo de ameaças de morte denunciadas ao Ministério Público e à polícia, o jornalista foi morto a tiros por volta das 0h30 do dia 8 de março, numa das mais movimentadas avenidas da cidade. Ele havia acabado de sair de uma barraquinha de churrascos e entrava no seu carro quando foi atingido com um tiro na cabeça, outro no peito e um terceiro nas costas.



Natural de Caratinga, Rodrigo Neto era casado e tinha um filho de seis anos de idade. No programa Plantão Policial, na Rádio Vanguarda, Rodrigo apresentava aos sábados um quadro intitulado ‘O que o tempo não apagou’. Entre os diversos casos abordados, execuções praticadas por um suposto grupo de extermínio formado por policiais.



O Comitê Rodrigo Neto foi formado por profissionais da imprensa do Vale do Aço com o objetivo de cobrar das autoridades a identificação e prisão dos autores do assassinato do jornalista. Semanalmente, o movimento edita matérias que faziam parte da agenda de notícias de Rodrigo Neto. O material tem sido publicado em conjunto pela imprensa regional e já está na quinta reportagem.



Com o slogan ‘Rodrigo Neto – Sua voz não vai se calar – Chega de impunidade!’, o movimento saiu às ruas do centro de Ipatinga nesta segunda-feira e chamou a atenção da população. Depois de percorrer a avenida 28 de Abril, onde está localizado os principais estabelecimentos comerciais da cidade, os manifestantes subiram a avenida João Valentim Pascoal até a 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil.



“A manifestação cumpriu seu papel de lembrar um mês sem respostas sobre a autoria do crime. Contamos ainda com a presença de mães de vítimas de crimes que caíram no esquecimento e também aguardam resposta. Essa cobrança pela impunidade é muito importante, ela lembra algo que era muito natural no Rodrigo, que era clamar por justiça”, avaliou uma das coordenadoras do Comitê Rodrigo Neto.



Nesta quinta-feira, membros do Comitê estarão em Belo Horizonte para entregar à ministra Maria do Rosário Nunes, da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, um relatório sobre os diversos casos denunciados por Rodrigo Neto. Há cerca de 15 dias, a ministra esteve em Ipatinga, juntamente com o deputado estadual Durval Ângelo (da Comissão de Direitos Humanos da ALMG) e deputado federal Nilmário Miranda, para participar de uma audiência pública sobre a execução do jornalista.
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Traficante ‘Japão’ denunciou policial e foi executado a tiros

Caso de Maxwel de Oliveira Silva foi encaminhado para Belo Horizonte e está à disposição do DIHPP - Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa. Quase dois anos depois, a investigação permanece inconclusa.





DA REDAÇÃO- O repórter do jornal VALE DO AÇO e também da Rádio Vanguarda, Rodrigo Neto de Faria, de 38 anos, vítima de cruel execução no início da madrugada do último dia 8, quando foi alvejado por três tiros à queima-roupa disparados pelo garupa de uma moto, em um ponto de venda de churrasquinhos na avenida Selim José de Sales, no bairro Canaã, cobrava a solução de diversos crimes impunes no Vale do Aço. Em suas participações no programa radiofônico Plantão Policial, por diversas vezes o jornalista insistiu que o caso do assassinato de Maxwel de Oliveira Silva, o ‘Japão’, fosse solucionado e os autores do crime fossem punidos, mas sua voz se perdeu no vazio.

A execução de ‘Japão’ se consumou no final da tarde do dia 28 de junho de 2011 (uma terça-feira), após sofrer tentativas de assassinato e sobreviver. Acusado de tráfico de drogas, Maxwel de Oliveira Silva, que na época tinha 30 anos, estava na garupa da moto Titan placa HAS-4737, pilotada por seu irmão Wallace na Avenida Cláudio Moura, no sentido Centro-bairro Iguaçu, quando foi atingido por vários tiros. O crime ocorreu a cerca de 100 metros da “Estação Qualifica”, ao lado do tradicional Camelódromo ipatinguense. Segundo testemunhas, dois homens se aproximaram em outra moto, que seria uma Titan preta, e o garupa começou a atirar. “Japão” foi atingido nas costas e abdômen. Havia um total de sete perfurações no corpo. Ele ainda agonizou por alguns minutos, morrendo antes de receber socorro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Seu irmão também foi baleado, mas de raspão.

“Eu cheguei a conversar com o ‘Japão’, mesmo ferido. Mas o socorro demorou muito e ele começou a sangrar pelo nariz e também pela boca, morrendo logo depois”, contou um homem que presenciou o crime e pediu para não ser identificado. 

Maxwel havia acabado de sair da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (1ª DRPC), onde prestara depoimento contra um policial militar. Ele havia apontado o PM, um cabo lotado no 14º Batalhão, como suspeito de tentar matá-lo no dia 9 daquele mesmo mês.

Próximo ao local do crime havia uma câmera do ‘Olho Vivo’. A PM disse na época que iria analisar as imagens feitas pelas filmagens para verificar se poderiam apontar pistas sobre os criminosos. Testemunhas revelaram que ‘Japão’ já havia sofrido pelo menos duas tentativas de homicídio. Na terceira, não teve a mesma sorte.

Tentativas frustradas
No dia 9 do mesmo mês, conforme foi apurado, sentado na calçada da rua Salto Osório, no bairro Vila Formosa, ‘Japão’ conversava com Robson Alves Bonfim, 34 anos, quando os dois foram atacados a tiros. Os disparos foram feitos por um homem descrito como magro e moreno, que desembarcou da garupa de uma motocicleta. 

Na ocasião, mesmo tendo sido atingido no peito, Maxwel ‘Japão’ se recuperou bem dos ferimentos.

Em depoimento na 1ª DRPC, o acusado de tráfico não teve dúvidas em apontar um cabo da PM como o responsável por tentar assassiná-lo. O caso foi investigado pelo delegado Helton Cota Lopes, titular da Delegacia Adjunta de Crimes contra a Vida (DACcV) de Ipatinga, que pediu a prisão temporária do PM. O Poder Judiciário acatou a solicitação, o policial foi preso no dia 21 de junho (oito dias antes do assassinato de ‘Japão’) e mandado para o 11º Batalhão de Manhuaçu, onde teria ficado recolhido em uma cela especial. No dia da morte de Maxwel de Oliveira Silva o cabo retornou para Ipatinga, sob escolta policial, para prestar depoimento na 1ª DRPC. No momento em que ‘Japão’ foi executado o militar ainda estava na delegacia. 
Delegados e policiais civis estiveram no local do crime no final da tarde no mesmo dia e iniciaram as investigações acerca do assassinato, mas elas não chegaram a ser concluídas. 



Rixa entre facções
Há suspeitas de que o assassinato de Maxwel de Oliveira Silva teria ocorrido a mando de um traficante conhecido como ‘Piuí’. Ele e ‘Japão’ antes eram parceiros, mas depois passaram a ser considerados pela PM como rivais e os principais traficantes responsáveis por confrontos ocorridos no morro do bairro Nova Esperança.

Em uma operação realizada pela PM em 2010, os militares ocuparam o bairro. Na ocasião as duas facções criminosas supostamente comandadas por ‘Piuí’ e ‘Japão’ brigavam por território para traficar e seriam responsáveis por homicídios e tentativas de assassinato na localidade. Após a ação da polícia na área, eles chegaram a dar algum sossego à comunidade, mas a rixa permaneceu, recordam testemunhas. 



O caso hoje
Segundo foi apurado nesta semana na 6ª Promotoria de Ipatinga, junto ao promotor Bruno Cesar Medeiros Jardini, o inquérito sobre o caso do ‘Japão’, número 1197/2011, foi encaminhado para Belo Horizonte, por se tratar de um crime que envolve policiais, estando à disposição do DIHPP - Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa. Encontra-se aos cuidados da delegada Elenice Cristine Batista Ferreira, da Homicídios Sul. A investigação até o momento permanece inconclusa.

No Fórum de Ipatinga, o inquérito recebeu o número 31311034355- 2, o mesmo a ser usado quando o caso vier a se tornar processo.

Também existem informações de fontes oficiosas de que possivelmente o cabo da PM não esteja mais residindo na região do Vale do Aço.
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Comitê organiza manifestação pelos 30 dias do assassinato do jornalista Rodrigo Neto

Na próxima segunda-feira (8), uma manifestação no centro de Ipatinga vai marcar os 30 dias decorridos desde a execução do jornalista Rodrigo Neto. O movimento articulado pelo Comitê Rodrigo Neto acontece às 13h, na Praça 1º de Maio.

Formado por profissionais da imprensa, colegas de trabalho e amigos do repórter covardemente assassinado, o Comitê Rodrigo Neto voltou a se reunir nesta terça-feira (2). Além de um balanço das atividades realizadas até o momento, os integrantes do grupo definiram novas ações para cobrar a apuração do crime.

Na última semana, a equipe da Polícia Civil de Belo Horizonte que investigava o caso na região retornou para a capital. Segundo matéria publicada pelo jornal Diário Popular, nota divulgada pela PC informou que a fase de apuração em Ipatinga foi concluída e as demais averiguações continuarão a ser feitas em Belo Horizonte. Entretanto, nenhuma informação foi passada a respeito da identificação dos autores do homicídio.

A campanha desenvolvida pelo Comitê tem como slogan “Rodrigo Neto – Sua voz não vai se calar – Chega de impunidade!”. A manifestação na próxima segunda-feira também acontece com este tema e deverá reunir familiares e amigos de outras vítimas de crimes que permanecem impunes.

Na próxima sexta-feira, a imprensa da região  volta a publicar em conjunto mais uma reportagem elaborada pelo Comitê Rodrigo Neto, que retoma casos investigados pelo jornalista assassinado. Já foram abordados na série de matérias a ‘chacina de Belo Oriente’, o desaparecimento da mototaxista Adriana Terume Onaka Debelli e o assassinato da missionária Anelise Teixeira Monteiro. Em todos esses crimes as investigações foram inconclusivas e seus autores não foram identificados.

O crime
Rodrigo Neto de Faria, 38 anos, foi assassinado por volta da 0h30 do dia 8 de março deste ano, numa das mais movimentadas avenidas de Ipatinga. Repórter investigativo e bacharel em direito, ele mantinha um programa no rádio em que abordava crimes cujas investigações não tinham sido concluídas. Em vários destes homicídios, havia a suspeita do envolvimento de policiais e até de grupos de extermínio.

O jornalista foi executado por dois homens que estavam numa motocicleta e o surpreenderam quando entrava no seu carro. Rodrigo Neto foi atingido com um tiro na cabeça, outro no peito e um terceiro nas costas. Ele já havia procurado o Ministério Público e a polícia para comunicar ameaças que teria recebido.
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Vídeo: Jornalista executado no Vale do Aço sofreu ameaças de morte

O jornalista Rodrigo Neto, morto a tiros na madrugada em Ipatinga, no Vale do Aço, estaria sofrendo ameaças de morte. De acordo com um colega de trabalho de Neto, ele teria procurado a polícia há pouco tempo para relatar o ocorrido. Conhecido por relembrar crimes não solucionados e cobrar soluções de políticos e policiais, o jornalista era considerado polêmico por suas denúncias.


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Morte de missionária ainda longe de punição

Militar foi indiciado e denunciado pelo crime e primeira audiência foi marcada para julho de 2014; testemunha que ligou cabo da PM ao crime foi assassinada com oito tiros

 

Um corpo encontrado às margens da Lagoa Silvana no início do ano de 2007 traz consigo até hoje sombras de dúvida e marcas de violência. O cadáver foi identificado como sendo da missionária Anelise Teixeira Monteiro, na época com 38 anos, e o crime não resultou em punição para os responsáveis mais de seis anos depois.

No dia 17 de janeiro de 2007, uma quarta-feira, pescadores encontraram um corpo do sexo feminino boiando às margens da Lagoa, que fica no distrito de Cordeiro de Minas, município de Caratinga, e acionaram o socorro. Foi constatado que a mulher havia sido assassinada por estrangulamento. Havia também sinais de facadas e cortes em seu pescoço e abdômen, segundo a perícia, uma tentativa de fazer com que o corpo afundasse e não pudesse ser localizado. As vísceras da mulher também foram expostas.
O cadáver permaneceu sem identificação no Instituto Médico Legal (IML) de Ipatinga durante uma semana. Preocupados com o desaparecimento da missionária e informados sobre um corpo desconhecido no IML, familiares e amigos de Anelise se dirigiram ao IML e reconheceram o corpo da missionária.

Anelise pertencia à Igreja Evangélica Fogo Para as Nações e viajava em missões pela congregação. Na ocasião de sua morte, Anelise saiu da cidade de Teixeira em direção a Ipatinga, onde morava, e pegaria um vôo para São Paulo. No entanto, não deu mais notícias, sendo identificada por três de seus irmãos.
Ela foi enterrada no dia 25 de janeiro do mesmo ano no Cemitério Parque Senhora da Paz, em Ipatinga. Anelise era casada e deixou duas filhas, que na época tinham 12 e 15 anos de idade.

Três anos antes de ser morta, a missionária e seu marido haviam sofrido um atentado a tiros. O marido de Anelise foi alvejado por quatro disparos, mas conseguiu se salvar. Durante as apurações da Polícia Civil, foi traçada uma linha de investigação envolvendo os dois crimes.

ENVOLVIMENTO POLICIAL
Em junho de 2007, o JORNAL VALE DO AÇO informou que a investigação da morte da missionária havia tido avanços. A delegada Adeliana Xavier Santos, responsável pelo inquérito, relatou que havia dois suspeitos de terem cometido o homicídio, entre eles um cabo da Polícia Militar. O cabo, lotado no 14° Batalhão da PM, em Ipatinga, foi indiciado por Adeliana por envolvimento na morte de Anelise. Em 2009, o Ministério Publicou, acatando o inquérito da Polícia Civil, denunciou o militar à Justiça.

As investigações feitas pela PC chegaram até o cabo da PM por meio do motorista Daniel Silva Araújo. Uma testemunha teria visto a missionária pela última vez entrando no carro que seria de Daniel. Em depoimento, o motorista confirmou que conhecia Anelise e que ficou sabendo da morte da mulher por meio do militar, que o procurou e relatou o acontecido ainda no dia 17 de janeiro, data em que o corpo da missionária foi encontrado na lagoa Silvana sem qualquer identificação. Para a PC, só quem tinha contato com os autores ou o próprio autor do crime é que poderia saber de tal fato.

Em 2007, Daniel foi preso no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de Ipatinga, após tentar contra a vida de Márcio Vital Ferreira. O crime foi motivado por dívidas pessoais e, aparentemente, não possui ligação com o caso da missionária Anelise. Daniel então tornou-se a principal testemunha do crime.
Em 9 de abril de 2010, Daniel Silva Araújo, então com 48 anos, foi assassinado com oito tiros na zona rural de Ipatinga. Ele estava em um bar no distrito de Pedra Branca de costas para a rua, quando foi surpreendido pelo assassino, que usava um capacete de viseira escura na cabeça e fugiu em uma motocicleta Honda Titan cor prata. O caso até hoje não possui uma elucidação.

RODRIGO NETO
O jornalista e radialista Rodrigo Neto, executado a tiros no último dia 8 de março, se envolveu diretamente neste caso com reportagens que sempre cobravam a solução para este crime. A primeira edição do DIÁRIO POPULAR, de junho de 2007, trouxe como manchete uma matéria feita por Rodrigo sobre o caso. Em agosto de 2008, o quadro “O que o tempo não apagou”, apresentado por ele na Rádio Vanguarda, relembrou a história trazendo uma entrevista com um amigo da missionária que esteve no IML, na ocasião da identificação do corpo de Anelise.

“Eu até ouvi a reportagem sobre esse corpo. A princípio não desconfiei de nada. O José Carlos, que é marido dela, me ligou, já tava em fase de desespero já, falando comigo que aquele corpo podia ser da mulher dele devido às características de cicatrizes no abdômen, e parece que não sei, ela tinha feito uma cirurgia agora há pouco tempo de... cirurgia plástica, né? Então ele me ligou desesperado, aí eu na hora desloquei pra casa dele e nem quis trazê-lo não. Aí veio eu, o irmão da Anelise, o Marcos (Marquinhos), e a gente viu as fotos e eu não tive dúvida. Na hora que vi a foto, tive certeza 100% que era ela”, relatou.
A última matéria feita sobre o caso pelo jornalista Rodrigo Neto no DIÁRIO POPULAR foi em março de 2011. Na ocasião, foi noticiado que o policial indiciado pela morte de Anelise já havia sido denunciado à justiça e aguardava uma data para o julgamento.

O processo, iniciado na comarca de Ipatinga, foi transferido em 2011 para Judiciário de Caratinga, em razão da localidade onde o corpo foi encontrado. O cabo da PM responde por homicídio simples, cuja pena varia entre seis a 20 anos de reclusão.

Foi marcada para julho do ano que vem uma audiência de instrução e julgamento, que tem por objetivo fazer com que as partes possam produzir no processo. O julgamento do militar, que continua exercendo atividades pela PM, ainda não possui data para acontecer. (Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso - Comitê Rodrigo Neto)
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Após sete anos, Chacina de Belo Oriente ainda é “mistério”

Enquanto o assassino do detetive Lahyre está  preso após ser condenado a 14 anos, autores da matança que vitimou família de Juliano Ferreira não foram sequer identificados

BELO ORIENTE – Há sete anos, dois meses e um dia, acontecia em Belo Oriente um dos crimes mais bárbaros da história do Vale do Aço: uma chacina que ceifou a vida de três pessoas e que até hoje permanece sem elucidação.

O repórter Rodrigo Neto, executado em Ipatinga há  uma semana com três tiros, denunciou à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado a participação policiais no crime. O jornalista acompanhou o desenrolar da história e sempre buscou, por meio de seus trabalhos, rememorar o caso em busca de soluções. Quando a tragédia completou um ano sem solução, Rodrigo apresentou um programa especial sobre o caso na rádio em que trabalhava.

Foram assassinadas Terezinha Caetana Batista Gomes, de 46 anos, o filho dela, Paulo Felipe Cândido Alves Ferreira de 16 anos, e Heraldo Ciro de Souza, de 25 anos, genro de Terezinha. Elas dormiam no momento em que a residência foi invadida por cinco homens armados que disparam contra os moradores. Além das vítimas fatais, estavam na casa Ana Cláudia Cândido, de 19 anos, que estava grávida de oito meses e uma criança de cinco anos. As duas escaparam da matança.

Os três mortos eram, respectivamente, mãe, irmão e cunhado de Juliano Batista Ferreira, que meses antes havia tirado a vida do detetive da Polícia Civil Lahyre Paulinelli. Após uma discussão com Lahyre, Juliano procurou o policial em sua residência e efetuou quatro disparos contra o detetive, que não resistiu aos ferimentos. Após o crime, Juliano conseguiu fugir, mas sua família passou a ser misteriosamente retaliada.

O primeiro indício de perseguição aconteceu três dias após a morte de Lahyre, quando o pai, a mãe e a irmã de Juliano foram internados com um quadro de intoxicação alimentar provocada por veneno usado para matar ratos. Momentos antes da internação, policiais estiveram na casa de Juliano à procura do então suspeito de matar o detetive.

Após um mês do assassinato de Lahyre, o irmão mais novo de Juliano, Paulo Felipe de Oliveira Ferreira, sofreu uma tentativa de homicídio no Centro da cidade. Ele foi alvejado com dois tiros nas costas, encaminhado ao Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, e sobreviveu.

Juliano foi encontrado no fim de 2005, na cidade de Cacoal, em Rondônia. Apurações da Polícia Civil deram conta da existência de familiares do assassino do detetive na região. Após averiguações, Juliano foi encontrado em uma fazenda e trazido para o Vale do Aço.

Entretanto, mesmo com a prisão, as retaliações contra a família não terminaram e no início de janeiro de 2006, outro irmão de Juliano, Jardel Cândido Alves Ferreira, foi assassinado por dois homens encapuzados enquanto estava em um bar de Belo Oriente. Já no dia 14 de janeiro do mesmo ano viria a acontecer o episódio mais trágico desta história: a chacina.

O caso provocou comoção na região e trouxe para o Vale do Aço policiais da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, que assumiram as investigações do crime. A hipótese de que policiais tenham participado da chacina sempre foi considerada. O delegado Fausto Ferraz foi o responsável pelo inquérito e concluiu as investigações pouco antes de se aposentar, em meados de 2012: ninguém foi indiciado. Os autos foram remetidos à Comarca de Açucena, mas não apontou nenhum culpado.

Em março de 2008, Juliano foi condenado a 14 anos de prisão e encontra-se preso na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem. Os parentes de Juliano que sobreviveram ao massacre não moram mais em Belo Oriente e chegaram a ser incluídos em um programa de proteção a testemunhas. Na cidade, a rua onde está localizada a delegacia da Polícia Civil leva o nome do detetive Lahyre Paulinelli, morto por Juliano. (*Comitê Rodrigo Neto – Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso).

Na cidade, o medo impera




BELO ORIENTE - Na rua Nossa Senhora do Carmo, bairro Santa Terezinha, onde ocorreu o crime, o silêncio tomou conta dos vizinhos. O caso não é comentado pelos moradores e, quando questionados sobre o que ocorreu no dia 14 de janeiro de 2006, a resposta é sempre a mesma: “Ninguém sabe, ninguém viu”.

Uma senhora que mora próximo à casa onde aconteceu a tragédia foi abordada pela equipe do Comitê Rodrigo Neto e prontamente conversou com os repórteres. Quando o assunto da chacina foi colocado em discussão, ela se esquivou e foi embora.

“Sobre isso eu não falo. Converso qualquer assunto com vocês, mas sobre a morte dessa família eu não vou falar nada. Primeiro porque eu não sei e segundo que isso já faz muito tempo não tem por que ficar lembrando”, declarou.

Um vizinho da casa onde ocorreu a chacina disse que no dia ele não saiu na rua em nenhum momento, tudo por medo dos executores voltarem ao local. “Minha sobrinha namorava um dos jovens que foi morto na casa. Ela gritava para eu ajudar o garoto na hora dos disparos, mas eu tranquei a casa toda e não saí em nenhum momento e nem deixei ela ir para fora”, conta.

Ainda apreensivo para falar sobre o tema, o vizinho declarou que esse episódio tem que ser esquecido por todos. “Aqui ninguém comenta sobre esse crime, pois acreditamos que foi uma execução envolvendo muita gente importante. Ainda essa semana uma repórter foi morto em Ipatinga porque ele investigava esse inquérito. Acho melhor vocês desistirem disso”, aconselhou.

A dona da casa onde aconteceu a tragédia, na época alugava o imóvel para Terezinha Caetana Batista Gomes, de 46 anos, uma das vítimas da chacina. Passados sete anos, a aposentada ainda não gosta de comentar sobre o crime.

No momento em que os repórteres do Comitê Rodrigo Neto conversavam com a proprietária do imóvel, que pediu para não ser identificada por medo de represálias, um de seus filhos adentrou na residência e com tom de agressividade orientou a mãe a não falar sobre o caso. “Mãe, a senhora não pode ficar conversando demais sobre esse assunto. Você viu o que aconteceu lá em Ipatinga com o repórter que estava investigando o caso e acabou morrendo. A senhora quer trazer esse problema para sua vida?”, gritou o filho.

A chacina de Belo Oriente até hoje amedronta os moradores do local. Após orientar a mãe a não dar depoimento sobre a tragédia, o jovem se exaltou com a presença dos repórteres em sua casa e pediu para não mais ser incomodado com esse assunto. “Minha mãe vive sozinha aqui nesta casa, daí vêm vocês querendo fazer matéria com ela sobre esses assuntos que não nos dizem respeito. Espero que a presença de vocês (repórteres), não venha trazer perseguição para minha família”, disse. A Record de Belo Horizonte, que também realizava reportagem para exibir no programa Domingo Espetacular, também ouviu os desabafos.

Mesmo apreensiva, a aposentada deixou que a equipe da reportagem entrasse na sua casa, local onde foi a chacina e mostrou que mesmo depois de reformar o imóvel, ainda existem sinais da brutalidade como marcas dos disparos. “Não sei de nada sobre esse assunto, pois no dia eu estava em Ipatinga na casa da minha filha e esse imóvel é meu, mas era alugado na época pela família que foi morta. A única coisa que posso mostrar são as marcas de tiro no chão que ainda existem”, relata. (*Comitê Rodrigo Neto – Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso).

 
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Desaparecimento de mototaxista: mais um drama com final infeliz

UM DOS CASOS ABORDADOS POR RODRIGO NETO, DA JOVEM TRABALHADORA QUE SUMIU MISTERIOSAMENTE EM IPATINGA NO ANO DE 2005, ESTÁ PRÓXIMO DE UM DESFECHO TRISTE: AS INVESTIGAÇÕES NÃO LEVARAM A LUGAR ALGUM.


 IPATINGA - Quem conheceu o radialista e bacharel em Direito Rodrigo Neto, 38 anos, covardemente assassinado com três tiros no último dia 8, no bairro Canaã, quando deixava uma conhecida barraca de churrasquinho, sabia que ele não descansava até que os casos tivessem solução. Os desaparecimentos, especialmente, chamavam a atenção do radialista, pela forma como devastam famílias; e como deixam impunes, em alguns casos, pessoas que têm sangue inocente nas mãos. Tanto que, em um dos programas da Rádio Vanguarda, onde trabalhava, chamado “Histórias que o tempo não apagou”, com relatos de casos sem solução, criou uma série: “Desaparecidos”. No programa radiofônico ele relembrou a história de Adriana Terume Onaka Debelli, que desapareceu misteriosamente em 2005. O inquérito deve ser finalizado nos próximos dias, mas sem qualquer alento para a família.



Adriana Terume Onaka Debelli, que tinha 19 anos e era descendente de japoneses, trabalhava em um ponto de mototaxistas na avenida Fernando de Noronha, no bairro Bom Retiro. Ela recebeu uma ligação por volta das 23h do dia 25 de fevereiro de 2005. Aparentemente, nada demais, era um pedido de corrida para uma localidade próxima a um supermercado conhecido na avenida Orquídea, bairro Bom Jardim. Era uma situação tão corriqueira, que ela tinha marcado com os outros colegas de profissão de se encontrarem depois, em frente ao Clube dos Aposentados, no Bom Retiro, pois haveria algumas corridas naquele local. Adriana era conhecida por ser muito trabalhadora. Na época que morou no Japão, trabalhava cerca de 14 horas por dia junto com o pai.

A última vez que Adriana foi vista com a sua moto Honda Titan azul, 125cc, placa GZZ-8317, foi por volta das 23h40, em um posto de gasolina na rotatória próxima ao bairro Caravelas e junto à BR-381. Por volta das 23h30, ela abasteceu a moto com R$ 5, o que lhe daria autonomia para rodar 70 quilômetros. Possivelmente, pelo horário, ela já teria realizado a corrida e estaria reabastecendo o veículo. Depois disso, ninguém mais viu a jovem, ou pelo menos afirmou tê-la visto. No mototáxi, receberam ainda uma ligação procurando a ‘japonesinha’, como era conhecida, para uma corrida do Horto ao Santa Mônica. Mas quando perguntaram quem queria a corrida, a pessoa do outro lado desligou.



Trabalhadora

O pai de Adriana, João Davidson Castro Debelli, de 44 anos, revelou em reportagens na época o perfil de sua filha. “Eu ofereci uma Twister zero para ela, para ela viajar, passear, para não mexer com isso. Mas ela me disse que aprendeu comigo a trabalhar, a gente só consegue as coisas trabalhando, e que estava unindo o útil ao agradável, ganhando seu próprio dinheiro. Ela me disse também que era a única mototaxista da cidade, que carregava muitas mulheres, que lhe davam preferência. Eu conhecia a índole dela, a honestidade dela. As investigações apuraram que ela não tinha envolvimento com drogas, com nada errado, como muita gente falou. Não tem motivo para ninguém querer ter feito mal a ela”, declarou o pai.

João Debelli residia no Japão e só veio para o Brasil depois do sumiço da filha. Ele trabalhava como engenheiro de projetos da empresa Toyota e ficou dez anos no país asiático. Na mesma entrevista, ele afirmou não ter esperança de reencontrar sua filha com vida. “Não tenho notícia nenhuma dela. Do jeito que começou está até hoje. Não tenho mais esperanças de encontrá-la viva. Não faço a mínima ideia do que possa ter ocorrido”, disse, na ocasião.



Apelando a uma vidente

Em outra reportagem, esta para o jornal Estado de Minas, João afirmou que, no desespero de encontrar Adriana, viajou boa parte do Brasil em busca de pistas. “Cheguei a ir até o Mato Grosso do Sul, pois fiquei sabendo que lá tinha uma vidente que descobria tudo. Ela disse muita verdade, mas não onde minha filha estava”, lembrou.

João Debelli declarou que também esteve no Paraná, São Paulo e em outros estados em busca de notícias de Adriana. “Aqui no Vale do Aço, estive em todas estas pequenas cidades da região à procura de minha filha”, complementou.

Adriana morou por oito anos no Japão e quando desapareceu havia acabado de passar em 8º lugar no vestibular de Direito em uma faculdade de Belo Horizonte. Ela também havia sido aprovada em Turismo, em outra faculdade.


O desaparecimento do processo



Em 2007, Rodrigo Neto procurou o processo no Fórum da Comarca de Ipatinga. Ele fora instaurado pelo delegado Geraldo Magela. Contudo, a exemplo da mototaxista, o processo também desapareceu misteriosamente.

O juiz diretor do Foro na época, Evaldo Gavazza, se surpreendeu com o fato e disse que era a primeira vez que algo assim acontecia. O inquérito foi reativado, e na época foi dito que não atrapalharia nas investigações, apenas por um motivo: a justiça também estava na estaca zero.

Quanto ao pai de Adriana, pensava diferente. “É uma coisa que não tem explicação. Por que justamente o inquérito dela desapareceu na mesa do promotor? Misteriosamente sumiu. Ninguém sabe para onde foi, ninguém viu. Só porque tinha pouco volume? Não houve avanço nenhum na investigação. E por que em uma investigação assim, o inquérito sumiria? Deve ter alguma coisa grande por trás”, especulou o pai.

Para piorar ainda mais, o delegado regional na época, Sebastião Rodrigues Costa, disse que não havia cópias de depoimentos colhidos, com pessoas ligadas ao caso do desaparecimento da mototaxista, sendo que as investigações recomeçariam do zero, e todos os depoimentos deveriam ser refeitos.

“Um delegado, um procurador, um juiz federal recebe para fazer o seu melhor. Eu sou um profissional. Se você me mandar projetar um carro, vou projetar um carro bom. É assim que deve ser feito. Não importa quanto receba. Se aceitou o cargo, tem que cumprir a função”, disse João Debelli, cobrando das autoridades uma ação.



Inquérito será finalizado

“O senhor acredita em crime perfeito?”, perguntou uma vez Rodrigo Neto a João Debelli, que respondeu. “Até então não acreditava. Mas não sei mais. Tem que ter uma ponta, uma fresta. Se não for solucionado, vai ser o primeiro crime perfeito da história da humanidade”, disse o pai, que expressou nesta frase toda a sua frustração com o caso.

Desde o final de 2011, o inquérito está nas mãos da delegada Irene Franco, responsável pela Delegacia de Crimes contra a vida. Ela refez algumas linhas de investigação, reinquiriu algumas testemunhas e familiares. “Uma das linhas de investigação era que o suspeito seria o namorado de Adriana na época, mas não avançou”, disse a delegada.

Ela revelou que, nas próximas semanas, o inquérito de Adriana Debelli deverá ser finalizado. “Estamos aguardando uma resposta oficial do IML de Belo Horizonte, sobre a comparação de um DNA com o de Adriana, que já sabemos extraoficialmente que deu negativo. Infelizmente, vamos ter que finalizar o processo sem definição de autoria e sem confirmação de morte. Não podemos nem apontar um crime. Temos indicações de que houve um, mas não temos provas para confirmar isso. Tudo aquilo que eu como delegada vislumbrei que poderia ser feito, eu fiz. O sumiço do inquérito no Fórum deu prejuízos. Pessoas que não puderam ser ouvidas novamente, detalhes que não foram possíveis reproduzir. Não posso afirmar que a falta dessas informações foi decisiva para o ponto que estamos hoje, que isto nos impediu de concluir a investigação, mas o fato é que chegamos em um ponto onde não há mais nenhuma linha a ser investigada, e vamos finalizar o caso”, declarou a delegada Irene.




Desrespeito à dor do pai




No dia 8 de maio de 2008, a ossada de uma mulher foi encontrada por funcionários de uma empreiteira da Cenibra em um matagal na localidade conhecida como Projeto Garapa, no distrito de Perpétuo do Socorro (Cachoeira Escura), em Belo Oriente. Os restos mortais, que estavam a cerca de dois quilômetros da BR-381, foram recolhidos e levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Ipatinga.  Foi levantada a hipótese de a ossada ser de Adriana. Comunicado do fato pelo auxiliar de necropsia do IML, Nilton de Oliveira, o ‘Pé-na-Cova’, João Debelli levou ao Instituto radiografias do corpo e da arcada dentária da filha, que tinha uma fratura no pulso decorrente de um tombo de moto no Japão, em 2004. Na ocasião, ela também sofreu um esmagamento da face, próximo ao olho esquerdo. Havia muitas semelhanças entre os restos mortais localizados em Cachoeira Escura e as características de Adriana. No entanto, dias depois, foi possível constatar que não eram de Adriana, o que aumentou a angústia de João.

As únicas pistas que João recebeu se mostraram falsas. Momentos depois do desaparecimento, ele teria recebido um trote de um adolescente pedindo R$100 mil pelo resgate, entre outros trotes e incidentes. “Houve trotes, brincadeiras de mau gosto, pessoas tentando extorquir dinheiro, e eu tive que me safar de várias coisas”, revelou.
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