Comunicado oficial do Comitê Rodrigo Neto

O Comitê Rodrigo Neto acompanhou com atenção ao anúncio realizado nesta terça-feira (23), pela Polícia Civil, a respeito da elucidação de diversos crimes de execução cujas suspeitas recaíam sobre policiais civis e militares. Depois de anos de impunidade e desmandos, finalmente a sociedade do Vale do Aço ouve das forças de segurança pública que os responsáveis por diversas atrocidades estão sendo investigados, identificados e indiciados.

O anúncio desta semana traz dois sentimentos aos membros do Comitê Rodrigo Neto e demais jornalistas da região. O primeiro, evidentemente, de alívio, ao constatar que finalmente temos esperança de que justiça possa ser feita. Ao indiciar inúmeros policiais por crimes que aconteceram há anos, a Polícia Civil – por meio do comprometido trabalho realizado pela Força-Tarefa descolada de Belo Horizonte a Ipatinga para apuração dos casos envolvendo integrantes da corporação e da Polícia Militar – dá mostras claras de sua competência para elucidar crimes.

Por outro lado, a constatação pela própria polícia do que todos nós já denunciamos – especialmente o jornalista Rodrigo Neto – de que agentes de segurança foram responsáveis por tantos homicídios, até então impunes, também traz preocupação e revolta, em função da omissão de anos que custou a vida de tantas pessoas, entre elas dois repórteres, já que os assassinos sempre agiram sob a certeza da impunidade.

O Comitê Rodrigo Neto agradece, na pessoa do delegado Emerson Moraes, o trabalho realizado pela equipe da DHPP e aguarda ansiosamente a conclusão dos inquéritos, com a consequente completa elucidação, bem como o esclarecimento sobre a motivação e eventuais mandantes da morte do jornalista Rodrigo Neto.

Nossas próximas ações serão direcionadas para cobrar apuração das responsabilidades dos respectivos comandos das polícias, no âmbito regional, à época dos fatos. Afinal, as situações apontadas pela Força-Tarefa são gravíssimas – como menores assassinados após sair das dependências de uma delegacia, onde estavam custodiados, ou um falso policial com mandado de prisão em aberto circulando dentro de viaturas e de delegacias sob a conivência de políciais, entre eles a própria chefia.

Na oportunidade, o Comitê Rodrigo Neto manifesta a confiança no senhor Governador do Estado de Minas Gerais, Antônio Augusto Junio Anastasia, que empenhou sua palavra na solução do caos instalado na área da segurança pública no Vale do Aço. Pela conduta demonstrada até então, acreditamos que Sua Excelência levará as investigações até as últimas consequências, ainda que seja necessário responsabilizar agentes públicos das esferas de comando das respectivas corporações.

Confiamos também na seriedade e celeridade do trabalho do Ministério Público e do Poder Judiciário para que o sistema penal funcione eficazmente e os culpados sejam denunciados, julgados e condenados, para trazer um pouco de alívio às famílias das vítimas de tantas atrocidades, e que consequente seja retomada a paz social e a confiança da sociedade no Estado de Minas Gerais.
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MP denuncia investigadores da Polícia Civil por duplo homicídio

Justiça acata também pedido de prisão preventiva contra os detetives Elton Pereira, Ronaldo Oliveira e Fabrício Quenupe, por evidências de participação nos assassinatos de lavadores de carros


IPATINGA – Três investigadores da Polícia Civil foram denunciados pelo Ministério Público (MP) por um duplo homicídio ocorrido em 2010, enquanto eram lotados na 1ª Delegacia Regional de Ipatinga. A acusação foi acatada pela juíza da 1ª Vara Criminal da Comarca de Ipatinga, Ludmila Lins Grilo, na semana passada. Ela ainda converteu as prisões temporárias dos acusados em prisões preventivas. 

Ronaldo de Oliveira Andrade, 40 anos; Elton Pereira Costa, 46 anos, e Fabrício de Oliveira Quenupe, conhecido como “Alemão”, 30 anos, foram denunciados pelo MP como os principais responsáveis pelas mortes do lavador de carros Marcos Vinícius Lopes de Oliveira, 18 anos, e Glauco Antônio Lourenço, de 22 anos. O crime foi descoberto no dia 10 de julho de 2010. As vítimas foram executadas com dois tiros na cabeça e os corpos encontrados nus e em avançado estado de decomposição. 

INVESTIGAÇÕES
Conforme as investigações feitas pela equipe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Belo Horizonte, no dia 25 de junho de 2010, no Córrego Boa Vista, localidade conhecida como Ipabinha, em Santana do Paraíso, os detetives Ronaldo, Elton e Fabrício desferiram diversos disparos de arma de fogo contra os dois jovens. 
O inquérito policial aponta que após as execuções, os detetives tiraram as roupas das vítimas como forma de dificultar a identificação dos corpos e ainda ocultaram os cadáveres. O caso foi reaberto quase sete anos depois pela força tarefa do DIHPP instalada em Ipatinga após as mortes do jornalista e radialista Rodrigo Neto, e do repórter fotográfico Walgney Carvalho. A equipe que investigou novamente o caso considerou que os investigadores acusados agiram com “animus necandi”, por meio cruel, por motivo torpe e com a utilização de recurso que dificultou a defesa das vítimas. 

DENÚNCIA
A denúncia do Ministério Público foi feita no último dia 27 de junho, juntamente com o pedido de prisão preventiva para os suspeitos do duplo homicídio. O MP justificou que a liberdade dos denunciados é uma ameaça à ordem pública, e acredita que eles e outros policiais civis podem fazer parte de um “grupo de extermínio” no Vale do Aço. “A liberdade dos mesmos por si só amedronta a população e macula a imagem da Polícia Civil Mineira”, diz trecho da denúncia que justifica o pedido de prisão preventiva ao judiciário. Os detetives encontram-se detidos desde maio deste ano na Casa de Custódia do Policial Civil em Belo Horizonte. 

PROVAS
Durante as investigações a polícia ainda conseguiu o depoimento de uma pessoa que contou que no dia em que Glauco e Marcos Vinícius estavam detidos eles foram submetidos a sessões de tortura. Conforme o depoimento, os investigadores chegaram inclusive a inserir agulhas debaixo das unhas dos presos. Outras testemunhas reconheceram o detetive Elton como sendo um dos plantonistas no dia do sumiço das vítimas. 
Outro fator que, segundo o MP, considera primordial para acusar os três investigadores é que nas imediações onde os corpos foram localizados foram encontrados projéteis e estojos do calibre 9 milímetros, de uso restrito das forças policiais e muito usados por agentes da Polícia Civil.
Ainda segundo laudo do Instituto Médico Legal, as agressões encontradas nos cadáveres são as mesmas descritas nos relatos do inquérito policial. Com isso, o MP entendeu que Glauco e Marcos Vinícius foram agredidos enquanto estavam custodiados na cela da Delegacia Regional de Ipatinga e não tem dúvida de que a prisão preventiva dos denunciados é necessária, “uma vez que o crime de homicídio é punido com reclusão e foi cometido com ‘animus’ doloso”, diz outro trecho da acusação do MP. “A materialidade e autoria estão demonstradas, pois estes são requisitos para a denúncia apresentada”, conclui o texto.


Outros policiais com preventiva decretada


IPATINGA – Pelo menos quatro dos dez policiais presos até o momento pelo Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa tiveram suas prisões temporárias convertidas em preventivas pela Justiça de Ipatinga. São eles: Jimmy Casseano, Leonardo Correa, José Cassiano Guarda e o cabo da Polícia Militar Victor Emmanuel Miranda de Andrade.
Estes agentes foram presos entre os dias 19 e 25 de abril e são suspeitos de participação em crimes diversos. José Cassiano, por exemplo, é apontado como um dos envolvidos no caso que ficou conhecido como a “chacina de Revés do Belém”, onde os corpos de quatro jovens foram encontrados no distrito em 2011, já em estado de decomposição. A autoria do crime nunca foi esclarecida, mas os indícios de participação de policiais eram fortes. Já o militar Victor Emmanuel é tido como executor de uma série de assassinatos em Ipatinga iniciados há quase dez anos. Por diversas vezes, o cabo foi apontado como sendo o suposto justiceiro da moto verde, que matava pessoas ligadas à criminalidade em regiões periféricas de Ipatinga, mas a ausência de provas dificultou o seu indiciamento.
Além dos policiais que tiveram suas prisões preventivas decretadas, permanecem presos os agentes Ronaldo de Oliveira, Fabrício Quenupe e Elton Pereira da Costa (vereador eleito pelo PT em Santana do Paraíso), Lúcio Lírio Leal (que segundo as investigações teria participado diretamente do assassinato do jornalista Rodrigo Neto, em março deste ano), o sargento da PM Michel Luiz da Silva e o também militar Charles Clemencius Diniz Teixeira.
Entre os seis, Ronaldo, Fabrício e Elton estão presos desde maio e tiveram suas prisões temporárias prorrogadas no início de junho por mais 30 dias. Entretanto, de acordo com a Legislação brasileira, o período máximo para a prisão cautelar é de 60 dias, e este prazo vence na semana que vem.
A prisão dos três já foi convertida em preventiva pela 1ª Vara Criminal da Justiça de Ipatinga e a Polícia Civil aguarda a chegada do deferimento para até o início da próxima semana. Caso contrário, os civis poderão ser colocados em liberdade.
A prisão temporária é aplicada em casos onde o suspeito não tem residência fixa, comete algum tipo de crime hediondo ou quando a liberdade do suspeito pode interferir nas investigações do inquérito policial.
No caso das investigações do DIHPP, as prisões cautelares foram decretadas pelo entendimento de que os policiais ofereciam risco às testemunhas e poderiam atrapalhar o andamento das apurações.

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