CHACINA DE REVÉS DO BELÉM Parentes de adolescentes ainda esperam por justiça

Mães das vítimas temem represálias devido ao andamento das investigações feitas pela DHPP de Belo Horizonte

Menor executado com tiro na nuca

IPATINGA – O histórico de impunidade no Vale do Aço parece estar chegando ao fim. Na última sexta-feira (19) foram presos dois policiais civis suspeitos de envolvimento no desaparecimento de quatro adolescentes moradores do bairro Caravelas.
Os corpos de John Enison da Silva, de 15 anos; Nilson Nascimento Campos, de 17 anos; Felipe Andrade, de 15 anos, e Eduardo Dias Gomes, de 16 anos, foram encontrados na localidade de Revés de Belém, distrito da Caratinga no dia 30 de outubro de 2011. Eles estavam nus e com perfurações de disparos de arma de fogo na nuca.
Os mandados de prisão preventiva foram expedidos pela Justiça da Comarca de Caratinga contra o médico legista José Rafael Americano e o investigador José Cassiano Guarda. Eles foram levados para a Casa de Custódia da Polícia Civil, no bairro Horto, em Belo Horizonte.
As investigações estão sendo conduzidas pela equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de Belo Horizonte (DHPP). Segundo o delegado Wagner Pinto, o inquérito corre em sigilo, a exemplo também das investigações sobre a execução de Rodrigo Neto e Walgney Carvalho.

PARENTES
Para a aposentada Maria da Conceição Silva, de 68 anos, o neto era um menino desobediente. John Enison veio para Ipatinga, morar na casa da avó, depois que a mãe adoeceu.
A avó viu o neto pela última vez no dia 24 de novembro, quando esteve na 1° Delegacia Regional de Ipatinga para liberar o adolescente, que estava apreendido sob a acusação de tráfico de drogas.
Os quatro menores estavam na rua Lorena de posse de pedras de crack, segundo o boletim de ocorrências feito pela Polícia Militar. Maria deixou que o neto ficasse no Centro aguardando a liberação dos amigos Nilson, Felipe e Eduardo.
“Queria saber o que realmente aconteceu naquele dia. Tem um ditado que diz que quem deve, paga. Não desejava o mal para o Jonh, mas um destino diferente, porque ele era um menino inteligente”, lembrou.
Logo que os corpos foram encontrados em 30 de outubro, os familiares conseguiram identificar os adolescentes por tatuagens e marcas de nascimento.
Apenas o de Jonh Enison dependia de exame de DNA. No dia 4 de outubro, Maria da Conceição esteve com uma filha em Caratinga para recolher amostras de sangue para a identificação do quarto corpo, encontrado no matagal em Revés do Belém.
Nesta semana, a aposentada revelou ao Comitê Rodrigo Neto que nunca recebeu o resultado do exame. Por isso, os restos mortais de John Enison ainda estão enterrados no Cemitério de Revés do Belém como indigente.
“Se meu neto não estivesse na rua contaminada estaria agora com 17 anos, trabalhando para me ajudar. O que desejo dizer é que muitos não pagam nessa terra, mas pagam com Deus. Tomara que a justiça seja feita. No escondido tem muita gente e que faz barbaridade”, declarou a aposentada.
Ao final da entrevista Maria fez um apelo para que as autoridades mudem a realidade dos adolescentes. “Queria um jeito de dar apoio a essas crianças. Fazer uma internação e dar serviço a eles. Isso pode ajudar a consertar aqueles que são desobedientes, como era o meu neto”, lembrou.

COVARDIA

O mesmo sentimento de angustia é compartilhado por Maria Aparecida Gomes, de 52 anos, avó de Felipe Andrade. O neto veio de Governador Valadares para Ipatinga com o objetivo de comemorar o aniversário dela.
“A minha filha Valcilene não se conforma com a morte do Felipe. Isso é um sofrimento para uma mãe e uma dor que não tem fim. A saudade que a gente sente aumenta a cada ano. A mãe do Felipe chegou a dizer que se ficar cara a cara com quem matou o meu neto, ela é capaz de fazer justiça com as próprias mãos”, comentou.
Maria lembrou que os menores foram ameaçados na rua por um policial, mas não soube identificar de qual corporação. “Ouvi dizer que um dos policiais declarou abertamente que aquele seria o ultimo pulão que os meninos sofreriam”, citou a dona-de-casa, fazendo referencia à apreensão dos quatro menores por tráfico.
Quanto à prisão dos dois suspeitos de envolvimento na execução dos menores, que ficou conhecimento como Chacina de Revés do Belém, a família de Felipe se diz temerosa em função do envolvimento agentes de segurança.
“Tanto faz se foram presos, quero estar longe disso ai. Mexer com polícia é um perigo, dependendo do que acontecer pode ter vingança. O Deus a que sirvo é maior do que tudo isso e não vai deixar acontecer nada de ruim. Não quero que aconteça a alguém da minha família o mesmo que aconteceu com aquela menina do Cidade Nova. Ela abriu a boca e acabaram calando ela”, relembrou Maria Aparecida.
A dona-de-casa se referia à execução de Rafaela Miranda de Jesus, de 19 anos, ocorrida no dia 1º de maio de 2012, cerca de dois meses após ter testemunhado uma abordagem policial em Santana do Paraíso que culminou no desaparecimento dos garotos identificados como Jonathan, Vitinho, Luciano e Wesley.

ENTENDA O CASO
Os quatro corpos em avançado estágio de decomposição foram encontrados por funcionários da Cenibra, no dia 30 de novembro, em uma área conhecida como Lagoa Bonita - Talhão 5, nas imediações do município de Revés do Belém.
Os cadáveres estavam nus e apresentavam perfurações produzidas por disparos de arma de fogo na altura da nuca, o que indica execução. Próximo a um dos cadáveres foi localizadas uma carteira de trabalho e uma certidão de nascimento em nome de Helberton Semeão Moraes. Só que os documentos não pertenciam a nenhuma das vítimas já identificadas. Os cadáveres estavam em uma área de difícil acesso. Na região em que os corpos foram encontrados, já foram registrados outros casos de localização de cadáveres.
Os quatro adolescentes, entre 15 de 17 anos de idade, foram vistos pela última vez por familiares no dia 24 de outubro. Neste dia, eles foram abordados pela Polícia Militar e encaminhados para a Delegacia da Polícia Civil. Ao serem liberados por volta das 18h, um dos adolescentes apedrejou uma viatura de Polícia Civil. Foi a última vez em que eles foram vistos antes dos corpos serem encontrados.

ENVOLVIMENTO DE POLICIAIS
Em entrevista ao jornal Vale do Aço, do dia 2 de dezembro de 2011, o delegado Carlos Alberto Bastos, da Polícia Civil de Caratinga, não descartou a hipótese de envolvimento de policiais.
“Todos (Eduardo, Nilson, John Enison e Felipe) estavam envolvidos com drogas. Eles foram presos dias antes de serem encontrados mortos. A gente não sabe e pode ser que sim (que haja a participação de policiais). Vemos diariamente nos noticiários a atuação de milícias (muitas compostas por policiais) no combate ao crime. Isso não acontece só aqui e no Rio de Janeiro, tem ocorrido é em todos os cantos do nosso país. Mas, agora, quem vai apurar se policiais estão ou não envolvidos nessa chacina é a delegacia de Ipatinga”, declarou.
Ele disse que encaminharia o inquérito para a PC de Ipatinga, em função da maior facilidade nas investigações. Na época, o então chefe do 12º Departamento de Polícia Civil, Walter Felisberto, disse que uma das linhas de investigação era a de que policiais (civis ou militares) poderiam estar envolvidos no crime. Tanto ele como o então delegado regional João Xingó disseram à imprensa que solicitariam ao superintendente da Polícia Civil em Belo Horizonte, Celso Ávila, apoio de uma equipe da Divisão de Crimes contra a Vida para colaborar nas investigações, dada “a complexidade do caso”. O então delegado regional de Caratinga, Gilberto Simão, também afirmou que ia requerer que o inquérito fosse remetido à Delegacia de Homicídios da capital mineira.


Matéria elaborada pelo Comitê Rodrigo Neto.
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Desaparecimento de quatro jovens no Cidade Nova ainda sem solução

Vítimas foram abordadas e levadas em carro por policiais civis; principal testemunha foi executada


SANTANA DO PARAÍSO - Quatro jovens com idades entre 13 e 19 anos desapareceram sem deixar rastros no dia 29 de fevereiro de 2012, no bairro Cidade Nova, em Santana do Paraíso. Segundo uma testemunha, as vítimas estavam em uma casa fazendo uso de drogas e teriam sido abordadas por pelo menos três homens, sendo posteriormente levadas em um carro da Polícia Civil.

A testemunha concedeu entrevista ao jornal DIÁRIO POPULAR, no dia 7 de março de 2012, sem se identificar, temendo represálias. Mas não adiantou e Rafaela Miranda de Jesus, de 19 anos, foi assassinada no dia 1º de maio de 2012, cerca de dois meses após ter testemunhado o fato. Assim como o desaparecimento dos garotos, a morte de Rafaela ainda não foi desvendada pela polícia.

A jovem testemunha relatou que estava na residência com os garotos – identificados como Jonathan, Vitinho, Luciano e Wesley - quando um homem parou na porta e se identificou como policial civil. “Ele mostrou a arma, disse que era policial civil e pediu para que eu levantasse a blusa e depois me liberou”, contou a garota à reportagem.

Ainda segundo Rafaela, minutos depois, um carro preto, que ela identificou como da Polícia Civil, parou na porta. Dois homens desceram, entraram na casa, amarraram e levaram os jovens. “Vi quando eles colocaram os rapazes no porta-malas, mas não vi para onde foram”, relatou na reportagem publicada na edição de 7 de março.

Conforme noticiado pelo JORNAL VALE DO AÇO no mesmo dia, o tio de um dos rapazes desparecidos também teria presenciado a abordagem policial na casa onde eles estavam.

Raimundo Luiz de Andrade, de 39 anos, é pai de um dos garotos desaparecidos, na época o adolescente tinha 13 anos de idade. Na ocasião da primeira reportagem sobre o assunto, publicada no DIÁRIO POPULAR, ele já manifestava descrença em encontrá-lo vivo: “Pelo que a gente ouve falar, que as polícias (sic) pegam, levam e consomem, então não tenho muita esperança não. Mas que ele seja encontrado, vivo ou morto”, disse.

Na época do desaparecimento dos jovens, a reportagem do DIÁRIO POPULAR também conversou com os moradores do Cidade Nova, bairro que pertence a Santana do Paraíso, mas está localizado a apenas cinco minutos do centro de Ipatinga. Segundo narra a repórter, foi possível ouvir de moradores os nomes de alguns policiais que estariam envolvidos no sumiço dos meninos. Mas o medo impediu que eles se identificassem ou ao menos repetissem os nomes dos suspeitos, que costumavam intimidar os moradores locais.

MORTE DE RAFAELA

A principal testemunha do desaparecimento dos quatro jovens foi assassinada no dia 1º de maio de 2012. Rafaela Miranda de Jesus, 19 anos, estava em uma motocicleta junto com o seu companheiro, A.M.A., 38 anos. De acordo com o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, o casal trafegava pela BR-381 na altura do bairro Iguaçu, quando uma moto de cor escura, com a placa dobrada e dois ocupantes, emparelhou com as vítimas.
O carona sacou uma arma de fogo e efetuou vários disparos contra o casal. Rafaela foi ferida no pescoço e cabeça e morreu quando era socorrida pelo SAMU. O companheiro dela foi baleado no rosto e ombro, sendo levado para o Hospital Márcio Cunha.

INVESTIGAÇÕES

Entre as providências tomadas, foi instaurado um inquérito policial de responsabilidade da Delegacia de Santana do Paraíso. O caso foi assumido pela delegada Amanda Sfredo, que ouviu familiares e realizou diligências. Entretanto, a partir do dia 19 de março a Corregedoria Geral da Polícia Civil de Belo Horizonte avocou as investigações sobre o desaparecimento dos jovens. A notícia foi veiculada no DIÁRIO POPULAR no dia 22 março. “É um procedimento normal da Corregedoria quando há denúncias de envolvimento de policiais no caso”, disse Amanda à época. Ela também não descobriu de onde seria a viatura da PC vista pelas testemunhas.

Já no dia 12 de junho, a Corregedoria afirmou que não mais falaria sobre o caso dos jovens desaparecidos, nem mesmo divulgaria qualquer informação aos veículos de comunicação.

A reportagem do DIÁRIO POPULAR tentou, em diversos momentos, obter informações sobre o caso junto à Corregedoria, mas sempre recebeu a mesma informação: “o fato ocorrido em Santana do Paraíso permanece sob investigação e diligências estão sendo providenciadas, mas não serão divulgadas para não atrapalhar o andamento da investigação”.

No dia 25 de março de 2013, em novo contato com a Corregedoria, em Belo Horizonte, foi informado que o caso continua em apuração, que nenhuma linha de investigação está descartada e não há previsão de conclusão do inquérito.


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NOTA DE REPÚDIO


O Comitê Rodrigo Neto vem a público manifestar perplexidade e indignação com as declarações do subsecretário de Defesa Social, Daniel de Oliveira Malard, em relação às medidas de segurança que devem ser tomadas pelos jornalistas, “tais como o fazem juízes e policiais”.

Ao transferir a responsabilidade da segurança dos profissionais da imprensa aos próprios jornalistas, o Estado mais uma vez dá mostra da fragilidade do sistema e descontrole sobre as forças de segurança do Vale do Aço.

É importante destacar que promotores, juízes e policiais, ao contrário dos jornalistas, têm porte de arma, treinamento especializado e escolta policial, se solicitada.

Se diante da execução de dois repórteres ligados à área policial, o Estado não é capaz de garantir a liberdade de imprensa e o exercício democrático e constitucional da profissão, o Comitê Rodrigo Neto solicita, mais uma vez, o apoio e intervenção da Polícia Federal e do Ministério da Justiça.



Comitê Rodrigo Neto
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CARTA À POPULAÇÃO

A execução do repórter-fotográfico Walgney Assis Carvalho, conhecido como Carvalho, freelancer do jornal "Vale do Aço”, instalou o terror entre os jornalistas do Vale do Aço. Diante do cenário de impunidade e da falta de segurança, os profissionais de imprensa estão perplexos e temerosos sobre quem pode ser a próxima vítima, já que desde o assassinato de Rodrigo Neto nenhuma medida foi tomada para responsabilizar e prender os culpados, o que torna todos, indistintamente, alvos fixos na alça de mira dos assassinos.
A situação torna-se ainda mais crítica se analisada sob o ponto de vista do cerceamento da liberdade de expressão, impondo o silêncio à bala, porque é um atentado explícito ao Estado Democrático de Direito, sem que as autoridades esbocem qualquer reação para impedir tamanha violação. Historicamente, sob o domínio do medo, os povos assistiram silenciosos a aurora dos regimes totalitários, o surgimento das ditaduras, o extermínio de povos inteiros. Claro, antes silenciaram os jornalistas. No Vale do Aço, estamos tendo um exemplo de como isso acontece. Trata-se de uma zona conflagrada, tanto quanto enclaves em guerra civil. Mata-se um, nada acontece, não há punição, o tempo passa – e nem precisa ser muito tempo –, mata-se outro, e por aí vamos, de tragédia em tragédia até a tragédia final. Todos assistindo passivamente, impotentes, fracos diante dos criminosos. Ninguém está seguro.
O Estado que nos cobra compulsoriamente os impostos do nascimento à morte não serve sequer para nos dar a segurança necessária para trabalhar na construção da sociedade livre e democrática que precisamos ter. Ao contrário, em muitos casos, treina e arma os assassinos que continuam à solta, sob a sua tutela.
Agora, o que se discute não é mais o motivo dos assassinatos. É até quando eles vão continuar impunes. É quem vai garantir a segurança dos jornalistas que precisam trabalhar para manter a sociedade informada.
Se o Estado não perdeu o controle da situação no Vale do Aço, onde os assassinatos de jornalistas e cidadãos comuns ocorrem quase diariamente e permanecem na impunidade, que as autoridades digam e demonstrem na prática quem está no controle da situação.
Nós, jornalistas e comunicadores, aterrorizados, psicologicamente arrasados com a situação e temerosos em ter que continuar a escrever os fatos com sangue de nossos pares, exigimos respostas, proteção e segurança. 

COMITÊ RODRIGO NETO
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Seis anos depois, duplo homicídio em padaria ainda está sem punição

José Maria (esquerda) e Diunismar Vital Ferreira (direita) foram mortos por uma dupla de motociclistas em 8 de fevereiro de 2007

O mecânico Diunismar Vital Ferreira e o instalador de máquinas José Maria foram baleados por dois homens em uma motocicleta; inquérito tramitou na 1ª Vara Criminal e passou pelas mãos do Ministério Público oito vezes até ser devolvido à Polícia Civil


IPATINGA – Passados mais de seis anos desde a execução do mecânico Diunismar Vital Ferreira, 41 anos, mais conhecido como Juninho, e do instalador de máquinas José Maria, 58 anos, o crime ainda está em investigação.
Os dois homens foram mortos por uma dupla em uma motocicleta no dia 8 de fevereiro de 2007, com o mesmo ‘modus operandi’ em que o jornalista e bacharel de Direito Rodrigo Neto de Faria foi assassinado em 8 de março deste ano.
Em seu trabalho investigativo o repórter trabalhou para que o duplo homicídio não caísse no esquecimento e os culpados fossem punidos. O inquérito policial do crime tramitou na 1ª Vara Criminal de Ipatinga.
Consulta feita no site do Tribunal de Justiça apontou que o processo esteve pelo menos oito vezes no Ministério Público entre março de 2007 e agosto de 2011, quando os autos foram remetidos novamente à Polícia Civil. Só que dessa vez para uma Delegacia no município de Venda Nova, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde o caso permanece sem elucidação.
Diunismar e José Maria estavam sentados em uma mesa do lado de fora da Padaria Guerra, na avenida Macapá, bairro Veneza I, quando foram surpreendidos pelos assassinos.

O CRIME

O mecânico tomava uma cerveja e comia uma porção na companhia de José Maria quando o homem que estava na garupa da moto desceu e abriu fogo contra os dois.
Juninho foi alvejado com quatro disparos de uma pistola semi-automática calibre 380. Já o instalador de máquinas pode ter sido morto como queima de arquivo, pois viu de perto o executor de Diunismar.
Após ser baleado o mecânico tentou se esconder do atirador dentro da padaria, mas caiu nos fundos do estabelecimento. Ele chegou a ser socorrido com vida por uma ambulância do SAMU até o Hospital Márcio Cunha.
José Maria apesar de ter sido alvejado apenas uma vez morreu durante um procedimento cirúrgico. No local, ficaram as marcas dos tiros nas vidraças, nos produtos e também nos móveis.

TESTEMUNHAS
“Ninguém sabe de nada, porque foi tudo muito rápido, todos nós corremos na hora do tiroteio. Nunca vi isso na minha vida”, disse uma das funcionárias padaria na época à reportagem do Jornal Vale do Aço.
O tenente José Monteiro disse que os policiais recolheram na calçada e no interior da padaria 10 cápsulas deflagradas de pistola semi-automática calibre 380 e ainda um projétil. “Realizamos buscas na cidade, mas sem sucesso na prisão da dupla. Todo mundo que a gente conversou não soube dar a características dos autores ou do veículo”, disse o militar na ocasião.

MOTIVAÇÃO
Depois do bárbaro homicídio, os familiares de Juninho relevaram que o mecânico tinha problemas com várias pessoas, em especial com um capitão da PM que teria feito ameaças a Diunismar em função do envolvimento deste militar com a namorada do mecânico à época.
Foi possível apurar ainda que havia um processo na Justiça envolvendo o policial e o mecânico. Testemunha ouvida pela reportagem do Jornal Vale do Aço disse que a namorada de Diunismar esteve na padaria momentos antes do duplo homicídio. A mulher discutiu com a vítima e depois foi embora.

AMEAÇAS
Dias antes de morrer, Juninho confidenciou à sua ex-mulher que tinha recebido ameaças de morte. “Não gostaria de falar sobre o que pode ter ocorrido, mas a última vez que o vi, estava com medo e falando na possibilidade de ser morto”, comentou a mulher.
Já para amigos próximos, Diunismar chegou a pedir refúgio para se esconder. Ele ficou abrigado por mais de 30 dias em um quarto na casa de um conhecido por temer pela sua segurança.
Diversas vezes o mecânico comentou sobre ameaças feitas pelo militar. Diunismar morava em um apartamento na avenida Macapá junto com a namorada, quase em frente à padaria onde ele foi morto. A relação deles era tumultuada. O triângulo amoroso teria durado mais de três anos até Juninho ser morto.

LUGAR ERRADO
O instalador de máquinas José Maria pagou com a vida por estar na companhia de Juninho. O homem estava em Ipatinga a trabalho havia alguns meses, mas morava no bairro Granja Verde, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A filha dele, Maria Aparecida Santos, foi quem esteve na cidade para liberar o corpo do pai. Ela comentou que José Maria criou os nove filhos e não tinha desavença com ninguém. Ele viajava por todo o estado reformando postos de combustíveis.
“Ele estava há pouco tempo em Ipatinga e surge esta pessoa que o matou sem ele dever nada. Perdi meu pai, mas acima de tudo um amigo. Gostaria de falar para este assassino que nos tirou o pai, que confio muito em Deus. Sei que Ele vai cobrar esta injustiça contra uma pessoa de quem todos gostavam”, declarou Maria Aparecida.

TENTATIVA
Após duas semanas da execução de Diunismar, o irmão dele Márcio Vital Ferreira sofreu uma tentativa de homicídio. O fato aconteceu no dia 20 de fevereiro no quilômetro 17 da MG-232 em Santana do Paraíso, próximo a Cachoeira do Bela Vista.
A vítima relevou que dirigia seu carro quando outro veículo emparelhou com o seu e um homem abriu fogo contra ele. Márcio apontou Daniel Silva Araújo como o autor dos tiros, mas não soube informar aos policiais o motivo do atentado.
Inicialmente a Polícia Civil trabalhou com a hipótese de que haveria ligação entre a tentativa e a execução de Diunismar. Mas, as investigações feitas pela delegada Adeliana Xavier apontaram que Daniel teve uma desavença com Márcio em função de um som automotivo.

LIGAÇÕES PERIGOSAS
A prisão de Daniel pelo atentado também ajudou na elucidação de outro crime, a morte da missionária Anelise Teixeira, encontrada morta as margens da Lagoa Silvana em 17 de janeiro por pescadores. Ele apontou um cabo da Polícia Militar como responsável pelo homicídio.
A família de Diunismar foi alvo de um terceiro crime, quando um outro de seus irmãos, que trabalhava como mototaxista, foi assassinado. Durante vários anos, Diunismar lutou para que a justiça fosse feita neste caso. Ele vivia em peregrinação pelas delegacias, fórum e jornais da cidade, em busca de uma resposta para o crime.


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Manifestação marca os 30 dias da execução do jornalista Rodrigo Neto

Uma manifestação realizada na tarde desta segunda-feira (08), no centro de Ipatinga, marcou os 30 dias da execução do jornalista Rodrigo Neto de Faria. Depois de uma concentração na Praça 1º de Maio, diversas pessoas saíram numa caminhada até a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Ipatinga.



Articulado pelo Comitê Rodrigo Neto, o movimento reuniu profissionais da imprensa, colegas de trabalho, amigos e familiares do jornalista, que trabalhava na Rádio Vanguarda AM e Jornal Vale do Aço. Também bacharel em Direito, Rodrigo abordava em suas matérias crimes não solucionados pela polícia.



Alvo de ameaças de morte denunciadas ao Ministério Público e à polícia, o jornalista foi morto a tiros por volta das 0h30 do dia 8 de março, numa das mais movimentadas avenidas da cidade. Ele havia acabado de sair de uma barraquinha de churrascos e entrava no seu carro quando foi atingido com um tiro na cabeça, outro no peito e um terceiro nas costas.



Natural de Caratinga, Rodrigo Neto era casado e tinha um filho de seis anos de idade. No programa Plantão Policial, na Rádio Vanguarda, Rodrigo apresentava aos sábados um quadro intitulado ‘O que o tempo não apagou’. Entre os diversos casos abordados, execuções praticadas por um suposto grupo de extermínio formado por policiais.



O Comitê Rodrigo Neto foi formado por profissionais da imprensa do Vale do Aço com o objetivo de cobrar das autoridades a identificação e prisão dos autores do assassinato do jornalista. Semanalmente, o movimento edita matérias que faziam parte da agenda de notícias de Rodrigo Neto. O material tem sido publicado em conjunto pela imprensa regional e já está na quinta reportagem.



Com o slogan ‘Rodrigo Neto – Sua voz não vai se calar – Chega de impunidade!’, o movimento saiu às ruas do centro de Ipatinga nesta segunda-feira e chamou a atenção da população. Depois de percorrer a avenida 28 de Abril, onde está localizado os principais estabelecimentos comerciais da cidade, os manifestantes subiram a avenida João Valentim Pascoal até a 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil.



“A manifestação cumpriu seu papel de lembrar um mês sem respostas sobre a autoria do crime. Contamos ainda com a presença de mães de vítimas de crimes que caíram no esquecimento e também aguardam resposta. Essa cobrança pela impunidade é muito importante, ela lembra algo que era muito natural no Rodrigo, que era clamar por justiça”, avaliou uma das coordenadoras do Comitê Rodrigo Neto.



Nesta quinta-feira, membros do Comitê estarão em Belo Horizonte para entregar à ministra Maria do Rosário Nunes, da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, um relatório sobre os diversos casos denunciados por Rodrigo Neto. Há cerca de 15 dias, a ministra esteve em Ipatinga, juntamente com o deputado estadual Durval Ângelo (da Comissão de Direitos Humanos da ALMG) e deputado federal Nilmário Miranda, para participar de uma audiência pública sobre a execução do jornalista.
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Traficante ‘Japão’ denunciou policial e foi executado a tiros

Caso de Maxwel de Oliveira Silva foi encaminhado para Belo Horizonte e está à disposição do DIHPP - Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa. Quase dois anos depois, a investigação permanece inconclusa.





DA REDAÇÃO- O repórter do jornal VALE DO AÇO e também da Rádio Vanguarda, Rodrigo Neto de Faria, de 38 anos, vítima de cruel execução no início da madrugada do último dia 8, quando foi alvejado por três tiros à queima-roupa disparados pelo garupa de uma moto, em um ponto de venda de churrasquinhos na avenida Selim José de Sales, no bairro Canaã, cobrava a solução de diversos crimes impunes no Vale do Aço. Em suas participações no programa radiofônico Plantão Policial, por diversas vezes o jornalista insistiu que o caso do assassinato de Maxwel de Oliveira Silva, o ‘Japão’, fosse solucionado e os autores do crime fossem punidos, mas sua voz se perdeu no vazio.

A execução de ‘Japão’ se consumou no final da tarde do dia 28 de junho de 2011 (uma terça-feira), após sofrer tentativas de assassinato e sobreviver. Acusado de tráfico de drogas, Maxwel de Oliveira Silva, que na época tinha 30 anos, estava na garupa da moto Titan placa HAS-4737, pilotada por seu irmão Wallace na Avenida Cláudio Moura, no sentido Centro-bairro Iguaçu, quando foi atingido por vários tiros. O crime ocorreu a cerca de 100 metros da “Estação Qualifica”, ao lado do tradicional Camelódromo ipatinguense. Segundo testemunhas, dois homens se aproximaram em outra moto, que seria uma Titan preta, e o garupa começou a atirar. “Japão” foi atingido nas costas e abdômen. Havia um total de sete perfurações no corpo. Ele ainda agonizou por alguns minutos, morrendo antes de receber socorro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Seu irmão também foi baleado, mas de raspão.

“Eu cheguei a conversar com o ‘Japão’, mesmo ferido. Mas o socorro demorou muito e ele começou a sangrar pelo nariz e também pela boca, morrendo logo depois”, contou um homem que presenciou o crime e pediu para não ser identificado. 

Maxwel havia acabado de sair da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (1ª DRPC), onde prestara depoimento contra um policial militar. Ele havia apontado o PM, um cabo lotado no 14º Batalhão, como suspeito de tentar matá-lo no dia 9 daquele mesmo mês.

Próximo ao local do crime havia uma câmera do ‘Olho Vivo’. A PM disse na época que iria analisar as imagens feitas pelas filmagens para verificar se poderiam apontar pistas sobre os criminosos. Testemunhas revelaram que ‘Japão’ já havia sofrido pelo menos duas tentativas de homicídio. Na terceira, não teve a mesma sorte.

Tentativas frustradas
No dia 9 do mesmo mês, conforme foi apurado, sentado na calçada da rua Salto Osório, no bairro Vila Formosa, ‘Japão’ conversava com Robson Alves Bonfim, 34 anos, quando os dois foram atacados a tiros. Os disparos foram feitos por um homem descrito como magro e moreno, que desembarcou da garupa de uma motocicleta. 

Na ocasião, mesmo tendo sido atingido no peito, Maxwel ‘Japão’ se recuperou bem dos ferimentos.

Em depoimento na 1ª DRPC, o acusado de tráfico não teve dúvidas em apontar um cabo da PM como o responsável por tentar assassiná-lo. O caso foi investigado pelo delegado Helton Cota Lopes, titular da Delegacia Adjunta de Crimes contra a Vida (DACcV) de Ipatinga, que pediu a prisão temporária do PM. O Poder Judiciário acatou a solicitação, o policial foi preso no dia 21 de junho (oito dias antes do assassinato de ‘Japão’) e mandado para o 11º Batalhão de Manhuaçu, onde teria ficado recolhido em uma cela especial. No dia da morte de Maxwel de Oliveira Silva o cabo retornou para Ipatinga, sob escolta policial, para prestar depoimento na 1ª DRPC. No momento em que ‘Japão’ foi executado o militar ainda estava na delegacia. 
Delegados e policiais civis estiveram no local do crime no final da tarde no mesmo dia e iniciaram as investigações acerca do assassinato, mas elas não chegaram a ser concluídas. 



Rixa entre facções
Há suspeitas de que o assassinato de Maxwel de Oliveira Silva teria ocorrido a mando de um traficante conhecido como ‘Piuí’. Ele e ‘Japão’ antes eram parceiros, mas depois passaram a ser considerados pela PM como rivais e os principais traficantes responsáveis por confrontos ocorridos no morro do bairro Nova Esperança.

Em uma operação realizada pela PM em 2010, os militares ocuparam o bairro. Na ocasião as duas facções criminosas supostamente comandadas por ‘Piuí’ e ‘Japão’ brigavam por território para traficar e seriam responsáveis por homicídios e tentativas de assassinato na localidade. Após a ação da polícia na área, eles chegaram a dar algum sossego à comunidade, mas a rixa permaneceu, recordam testemunhas. 



O caso hoje
Segundo foi apurado nesta semana na 6ª Promotoria de Ipatinga, junto ao promotor Bruno Cesar Medeiros Jardini, o inquérito sobre o caso do ‘Japão’, número 1197/2011, foi encaminhado para Belo Horizonte, por se tratar de um crime que envolve policiais, estando à disposição do DIHPP - Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa. Encontra-se aos cuidados da delegada Elenice Cristine Batista Ferreira, da Homicídios Sul. A investigação até o momento permanece inconclusa.

No Fórum de Ipatinga, o inquérito recebeu o número 31311034355- 2, o mesmo a ser usado quando o caso vier a se tornar processo.

Também existem informações de fontes oficiosas de que possivelmente o cabo da PM não esteja mais residindo na região do Vale do Aço.
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Comitê organiza manifestação pelos 30 dias do assassinato do jornalista Rodrigo Neto

Na próxima segunda-feira (8), uma manifestação no centro de Ipatinga vai marcar os 30 dias decorridos desde a execução do jornalista Rodrigo Neto. O movimento articulado pelo Comitê Rodrigo Neto acontece às 13h, na Praça 1º de Maio.

Formado por profissionais da imprensa, colegas de trabalho e amigos do repórter covardemente assassinado, o Comitê Rodrigo Neto voltou a se reunir nesta terça-feira (2). Além de um balanço das atividades realizadas até o momento, os integrantes do grupo definiram novas ações para cobrar a apuração do crime.

Na última semana, a equipe da Polícia Civil de Belo Horizonte que investigava o caso na região retornou para a capital. Segundo matéria publicada pelo jornal Diário Popular, nota divulgada pela PC informou que a fase de apuração em Ipatinga foi concluída e as demais averiguações continuarão a ser feitas em Belo Horizonte. Entretanto, nenhuma informação foi passada a respeito da identificação dos autores do homicídio.

A campanha desenvolvida pelo Comitê tem como slogan “Rodrigo Neto – Sua voz não vai se calar – Chega de impunidade!”. A manifestação na próxima segunda-feira também acontece com este tema e deverá reunir familiares e amigos de outras vítimas de crimes que permanecem impunes.

Na próxima sexta-feira, a imprensa da região  volta a publicar em conjunto mais uma reportagem elaborada pelo Comitê Rodrigo Neto, que retoma casos investigados pelo jornalista assassinado. Já foram abordados na série de matérias a ‘chacina de Belo Oriente’, o desaparecimento da mototaxista Adriana Terume Onaka Debelli e o assassinato da missionária Anelise Teixeira Monteiro. Em todos esses crimes as investigações foram inconclusivas e seus autores não foram identificados.

O crime
Rodrigo Neto de Faria, 38 anos, foi assassinado por volta da 0h30 do dia 8 de março deste ano, numa das mais movimentadas avenidas de Ipatinga. Repórter investigativo e bacharel em direito, ele mantinha um programa no rádio em que abordava crimes cujas investigações não tinham sido concluídas. Em vários destes homicídios, havia a suspeita do envolvimento de policiais e até de grupos de extermínio.

O jornalista foi executado por dois homens que estavam numa motocicleta e o surpreenderam quando entrava no seu carro. Rodrigo Neto foi atingido com um tiro na cabeça, outro no peito e um terceiro nas costas. Ele já havia procurado o Ministério Público e a polícia para comunicar ameaças que teria recebido.
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Vídeo: Jornalista executado no Vale do Aço sofreu ameaças de morte

O jornalista Rodrigo Neto, morto a tiros na madrugada em Ipatinga, no Vale do Aço, estaria sofrendo ameaças de morte. De acordo com um colega de trabalho de Neto, ele teria procurado a polícia há pouco tempo para relatar o ocorrido. Conhecido por relembrar crimes não solucionados e cobrar soluções de políticos e policiais, o jornalista era considerado polêmico por suas denúncias.


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Morte de missionária ainda longe de punição

Militar foi indiciado e denunciado pelo crime e primeira audiência foi marcada para julho de 2014; testemunha que ligou cabo da PM ao crime foi assassinada com oito tiros

 

Um corpo encontrado às margens da Lagoa Silvana no início do ano de 2007 traz consigo até hoje sombras de dúvida e marcas de violência. O cadáver foi identificado como sendo da missionária Anelise Teixeira Monteiro, na época com 38 anos, e o crime não resultou em punição para os responsáveis mais de seis anos depois.

No dia 17 de janeiro de 2007, uma quarta-feira, pescadores encontraram um corpo do sexo feminino boiando às margens da Lagoa, que fica no distrito de Cordeiro de Minas, município de Caratinga, e acionaram o socorro. Foi constatado que a mulher havia sido assassinada por estrangulamento. Havia também sinais de facadas e cortes em seu pescoço e abdômen, segundo a perícia, uma tentativa de fazer com que o corpo afundasse e não pudesse ser localizado. As vísceras da mulher também foram expostas.
O cadáver permaneceu sem identificação no Instituto Médico Legal (IML) de Ipatinga durante uma semana. Preocupados com o desaparecimento da missionária e informados sobre um corpo desconhecido no IML, familiares e amigos de Anelise se dirigiram ao IML e reconheceram o corpo da missionária.

Anelise pertencia à Igreja Evangélica Fogo Para as Nações e viajava em missões pela congregação. Na ocasião de sua morte, Anelise saiu da cidade de Teixeira em direção a Ipatinga, onde morava, e pegaria um vôo para São Paulo. No entanto, não deu mais notícias, sendo identificada por três de seus irmãos.
Ela foi enterrada no dia 25 de janeiro do mesmo ano no Cemitério Parque Senhora da Paz, em Ipatinga. Anelise era casada e deixou duas filhas, que na época tinham 12 e 15 anos de idade.

Três anos antes de ser morta, a missionária e seu marido haviam sofrido um atentado a tiros. O marido de Anelise foi alvejado por quatro disparos, mas conseguiu se salvar. Durante as apurações da Polícia Civil, foi traçada uma linha de investigação envolvendo os dois crimes.

ENVOLVIMENTO POLICIAL
Em junho de 2007, o JORNAL VALE DO AÇO informou que a investigação da morte da missionária havia tido avanços. A delegada Adeliana Xavier Santos, responsável pelo inquérito, relatou que havia dois suspeitos de terem cometido o homicídio, entre eles um cabo da Polícia Militar. O cabo, lotado no 14° Batalhão da PM, em Ipatinga, foi indiciado por Adeliana por envolvimento na morte de Anelise. Em 2009, o Ministério Publicou, acatando o inquérito da Polícia Civil, denunciou o militar à Justiça.

As investigações feitas pela PC chegaram até o cabo da PM por meio do motorista Daniel Silva Araújo. Uma testemunha teria visto a missionária pela última vez entrando no carro que seria de Daniel. Em depoimento, o motorista confirmou que conhecia Anelise e que ficou sabendo da morte da mulher por meio do militar, que o procurou e relatou o acontecido ainda no dia 17 de janeiro, data em que o corpo da missionária foi encontrado na lagoa Silvana sem qualquer identificação. Para a PC, só quem tinha contato com os autores ou o próprio autor do crime é que poderia saber de tal fato.

Em 2007, Daniel foi preso no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de Ipatinga, após tentar contra a vida de Márcio Vital Ferreira. O crime foi motivado por dívidas pessoais e, aparentemente, não possui ligação com o caso da missionária Anelise. Daniel então tornou-se a principal testemunha do crime.
Em 9 de abril de 2010, Daniel Silva Araújo, então com 48 anos, foi assassinado com oito tiros na zona rural de Ipatinga. Ele estava em um bar no distrito de Pedra Branca de costas para a rua, quando foi surpreendido pelo assassino, que usava um capacete de viseira escura na cabeça e fugiu em uma motocicleta Honda Titan cor prata. O caso até hoje não possui uma elucidação.

RODRIGO NETO
O jornalista e radialista Rodrigo Neto, executado a tiros no último dia 8 de março, se envolveu diretamente neste caso com reportagens que sempre cobravam a solução para este crime. A primeira edição do DIÁRIO POPULAR, de junho de 2007, trouxe como manchete uma matéria feita por Rodrigo sobre o caso. Em agosto de 2008, o quadro “O que o tempo não apagou”, apresentado por ele na Rádio Vanguarda, relembrou a história trazendo uma entrevista com um amigo da missionária que esteve no IML, na ocasião da identificação do corpo de Anelise.

“Eu até ouvi a reportagem sobre esse corpo. A princípio não desconfiei de nada. O José Carlos, que é marido dela, me ligou, já tava em fase de desespero já, falando comigo que aquele corpo podia ser da mulher dele devido às características de cicatrizes no abdômen, e parece que não sei, ela tinha feito uma cirurgia agora há pouco tempo de... cirurgia plástica, né? Então ele me ligou desesperado, aí eu na hora desloquei pra casa dele e nem quis trazê-lo não. Aí veio eu, o irmão da Anelise, o Marcos (Marquinhos), e a gente viu as fotos e eu não tive dúvida. Na hora que vi a foto, tive certeza 100% que era ela”, relatou.
A última matéria feita sobre o caso pelo jornalista Rodrigo Neto no DIÁRIO POPULAR foi em março de 2011. Na ocasião, foi noticiado que o policial indiciado pela morte de Anelise já havia sido denunciado à justiça e aguardava uma data para o julgamento.

O processo, iniciado na comarca de Ipatinga, foi transferido em 2011 para Judiciário de Caratinga, em razão da localidade onde o corpo foi encontrado. O cabo da PM responde por homicídio simples, cuja pena varia entre seis a 20 anos de reclusão.

Foi marcada para julho do ano que vem uma audiência de instrução e julgamento, que tem por objetivo fazer com que as partes possam produzir no processo. O julgamento do militar, que continua exercendo atividades pela PM, ainda não possui data para acontecer. (Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso - Comitê Rodrigo Neto)
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Após sete anos, Chacina de Belo Oriente ainda é “mistério”

Enquanto o assassino do detetive Lahyre está  preso após ser condenado a 14 anos, autores da matança que vitimou família de Juliano Ferreira não foram sequer identificados

BELO ORIENTE – Há sete anos, dois meses e um dia, acontecia em Belo Oriente um dos crimes mais bárbaros da história do Vale do Aço: uma chacina que ceifou a vida de três pessoas e que até hoje permanece sem elucidação.

O repórter Rodrigo Neto, executado em Ipatinga há  uma semana com três tiros, denunciou à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado a participação policiais no crime. O jornalista acompanhou o desenrolar da história e sempre buscou, por meio de seus trabalhos, rememorar o caso em busca de soluções. Quando a tragédia completou um ano sem solução, Rodrigo apresentou um programa especial sobre o caso na rádio em que trabalhava.

Foram assassinadas Terezinha Caetana Batista Gomes, de 46 anos, o filho dela, Paulo Felipe Cândido Alves Ferreira de 16 anos, e Heraldo Ciro de Souza, de 25 anos, genro de Terezinha. Elas dormiam no momento em que a residência foi invadida por cinco homens armados que disparam contra os moradores. Além das vítimas fatais, estavam na casa Ana Cláudia Cândido, de 19 anos, que estava grávida de oito meses e uma criança de cinco anos. As duas escaparam da matança.

Os três mortos eram, respectivamente, mãe, irmão e cunhado de Juliano Batista Ferreira, que meses antes havia tirado a vida do detetive da Polícia Civil Lahyre Paulinelli. Após uma discussão com Lahyre, Juliano procurou o policial em sua residência e efetuou quatro disparos contra o detetive, que não resistiu aos ferimentos. Após o crime, Juliano conseguiu fugir, mas sua família passou a ser misteriosamente retaliada.

O primeiro indício de perseguição aconteceu três dias após a morte de Lahyre, quando o pai, a mãe e a irmã de Juliano foram internados com um quadro de intoxicação alimentar provocada por veneno usado para matar ratos. Momentos antes da internação, policiais estiveram na casa de Juliano à procura do então suspeito de matar o detetive.

Após um mês do assassinato de Lahyre, o irmão mais novo de Juliano, Paulo Felipe de Oliveira Ferreira, sofreu uma tentativa de homicídio no Centro da cidade. Ele foi alvejado com dois tiros nas costas, encaminhado ao Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, e sobreviveu.

Juliano foi encontrado no fim de 2005, na cidade de Cacoal, em Rondônia. Apurações da Polícia Civil deram conta da existência de familiares do assassino do detetive na região. Após averiguações, Juliano foi encontrado em uma fazenda e trazido para o Vale do Aço.

Entretanto, mesmo com a prisão, as retaliações contra a família não terminaram e no início de janeiro de 2006, outro irmão de Juliano, Jardel Cândido Alves Ferreira, foi assassinado por dois homens encapuzados enquanto estava em um bar de Belo Oriente. Já no dia 14 de janeiro do mesmo ano viria a acontecer o episódio mais trágico desta história: a chacina.

O caso provocou comoção na região e trouxe para o Vale do Aço policiais da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, que assumiram as investigações do crime. A hipótese de que policiais tenham participado da chacina sempre foi considerada. O delegado Fausto Ferraz foi o responsável pelo inquérito e concluiu as investigações pouco antes de se aposentar, em meados de 2012: ninguém foi indiciado. Os autos foram remetidos à Comarca de Açucena, mas não apontou nenhum culpado.

Em março de 2008, Juliano foi condenado a 14 anos de prisão e encontra-se preso na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem. Os parentes de Juliano que sobreviveram ao massacre não moram mais em Belo Oriente e chegaram a ser incluídos em um programa de proteção a testemunhas. Na cidade, a rua onde está localizada a delegacia da Polícia Civil leva o nome do detetive Lahyre Paulinelli, morto por Juliano. (*Comitê Rodrigo Neto – Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso).

Na cidade, o medo impera




BELO ORIENTE - Na rua Nossa Senhora do Carmo, bairro Santa Terezinha, onde ocorreu o crime, o silêncio tomou conta dos vizinhos. O caso não é comentado pelos moradores e, quando questionados sobre o que ocorreu no dia 14 de janeiro de 2006, a resposta é sempre a mesma: “Ninguém sabe, ninguém viu”.

Uma senhora que mora próximo à casa onde aconteceu a tragédia foi abordada pela equipe do Comitê Rodrigo Neto e prontamente conversou com os repórteres. Quando o assunto da chacina foi colocado em discussão, ela se esquivou e foi embora.

“Sobre isso eu não falo. Converso qualquer assunto com vocês, mas sobre a morte dessa família eu não vou falar nada. Primeiro porque eu não sei e segundo que isso já faz muito tempo não tem por que ficar lembrando”, declarou.

Um vizinho da casa onde ocorreu a chacina disse que no dia ele não saiu na rua em nenhum momento, tudo por medo dos executores voltarem ao local. “Minha sobrinha namorava um dos jovens que foi morto na casa. Ela gritava para eu ajudar o garoto na hora dos disparos, mas eu tranquei a casa toda e não saí em nenhum momento e nem deixei ela ir para fora”, conta.

Ainda apreensivo para falar sobre o tema, o vizinho declarou que esse episódio tem que ser esquecido por todos. “Aqui ninguém comenta sobre esse crime, pois acreditamos que foi uma execução envolvendo muita gente importante. Ainda essa semana uma repórter foi morto em Ipatinga porque ele investigava esse inquérito. Acho melhor vocês desistirem disso”, aconselhou.

A dona da casa onde aconteceu a tragédia, na época alugava o imóvel para Terezinha Caetana Batista Gomes, de 46 anos, uma das vítimas da chacina. Passados sete anos, a aposentada ainda não gosta de comentar sobre o crime.

No momento em que os repórteres do Comitê Rodrigo Neto conversavam com a proprietária do imóvel, que pediu para não ser identificada por medo de represálias, um de seus filhos adentrou na residência e com tom de agressividade orientou a mãe a não falar sobre o caso. “Mãe, a senhora não pode ficar conversando demais sobre esse assunto. Você viu o que aconteceu lá em Ipatinga com o repórter que estava investigando o caso e acabou morrendo. A senhora quer trazer esse problema para sua vida?”, gritou o filho.

A chacina de Belo Oriente até hoje amedronta os moradores do local. Após orientar a mãe a não dar depoimento sobre a tragédia, o jovem se exaltou com a presença dos repórteres em sua casa e pediu para não mais ser incomodado com esse assunto. “Minha mãe vive sozinha aqui nesta casa, daí vêm vocês querendo fazer matéria com ela sobre esses assuntos que não nos dizem respeito. Espero que a presença de vocês (repórteres), não venha trazer perseguição para minha família”, disse. A Record de Belo Horizonte, que também realizava reportagem para exibir no programa Domingo Espetacular, também ouviu os desabafos.

Mesmo apreensiva, a aposentada deixou que a equipe da reportagem entrasse na sua casa, local onde foi a chacina e mostrou que mesmo depois de reformar o imóvel, ainda existem sinais da brutalidade como marcas dos disparos. “Não sei de nada sobre esse assunto, pois no dia eu estava em Ipatinga na casa da minha filha e esse imóvel é meu, mas era alugado na época pela família que foi morta. A única coisa que posso mostrar são as marcas de tiro no chão que ainda existem”, relata. (*Comitê Rodrigo Neto – Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso).

 
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