Quem matou Rodrigo Neto?

Morte de jornalista completa três meses sem resposta; autoridades policiais se recusam a falar sobre o andamento das investigações




IPATINGA – Três meses, mais três dias e uma pergunta: quem matou Rodrigo Neto? Depois de quase cem dias do assassinato do radialista da Rádio Vanguarda e repórter do Jornal VALE DO AÇO, o caso permanece sem respostas. Embora as autoridades policiais digam se empenhar na apuração do crime, com uma força-tarefa do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DIHPP) de Belo Horizonte, nada de concreto foi noticiado ainda quanto à elucidação do caso.



O assassinato de Rodrigo Neto provocou medo, insegurança, revolta e sensação de impunidade. A grande preocupação da imprensa, amigos e familiares é se esse seria mais um caso fadado a cair no esquecimento assim como muitos outros que o radialista cobrava para que fossem solucionados. Diante de acirradas cobranças, o DIHPP fez um apelo para que pudesse trabalhar em uma “zona de conforto”, pois só assim conseguiria chegar aos autores da execução do jornalista.



A trégua solicitada pela polícia foi concedida pelos órgãos de imprensa, mas tudo que se ouve até agora é que as investigações ainda estão em andamento e nada mais. Depois de quase um mês sem nenhuma movimentação, o Comitê Rodrigo Neto realiza nesta terça-feira (11), às 19h, um novo ato que irá lembrar os quase 100 dias da morte do jornalista. A manifestação acontece no local do crime, na avenida Selim José de Sales, na altura do número 1.000, em frente ao Churrasquinho do Baiano, de onde Rodrigo saía no momento em que foi morto pelo garupa de uma motocicleta.



O CRIME


Rodrigo Neto foi barbaramente assassinado no final da noite do dia 8 de março. Ele foi alvejado por três tiros quando entrava em seu veículo. Ao abrir a porta do carro, dois homens em uma motocicleta, usando capacetes, se aproximaram e dispararam friamente contra o repórter. Rodrigo foi atingido por um tiro na cabeça e outro no peito. Chegou a ser socorrido com vida e levado para o Hospital Municipal de Ipatinga, mas não resistiu aos ferimentos.  Rodrigo Neto era casado e deixou um filho de seis anos. Havia acabado de se mudar no dia anterior para uma nova residência e parecia feliz com o novo desafio profissional, agora como contratado não apenas da Rádio Vanguarda, mas também do jornal VALE DO AÇO, onde iniciara apenas uma semana antes. Ainda na redação, por volta das 21h, conversava com o editor sobre seus planos de vida. Seu objetivo, nos últimos anos, era tornar-se um delegado de polícia, e para isso já havia participado de dois concursos.



Desde a morte do jornalista, muitas manifestações, inclusive por organismos internacionais, foram feitas cobrando respostas mais rápidas para o caso. À época dos fatos, os delegados da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Gilberto Simão e Ricardo Cesari, anunciaram em coletiva à imprensa apuração séria do “Caso Rodrigo Neto”. No entanto, um dia depois a equipe da Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), coordenada pelo delegado Emerson Morais, de Belo Horizonte, assumiu a investigação e formou-se então uma força-tarefa não só para apurar o crime contra o repórter, mas também outros casos impunes que eram cobrados pelo jornalista.



O Comitê Rodrigo Neto cobrou insistentemente respostas para os assassinatos, mas por enquanto nenhuma conclusão foi divulgada Já no dia 12 de março, jornalistas do Vale do Aço criaram o Comitê Rodrigo Neto, para evitar que o trágico episódio caísse no esquecimento. De lá para cá, várias reportagens produzidas pelo comitê trouxeram de volta aqueles crimes sobre os quais o jornalista sempre cobrava incisivamente por punição.



Apesar da revolta, dor e medo, amigos, familiares e colegas de profissão não deixaram de participar da missa de 7º Dia de Rodrigo Neto, celebrada pelo Bispo emérito da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, Dom Lélis Lara. Em sua homilia, o religioso conclamou os presentes a fazerem algo para que o crime não ficasse impune. “Rodrigo Neto denunciava as coisas erradas, as maldades e os crimes. Então tinha gente interessada em eliminar este homem, pois ele estava atrapalhando a maldade”, destacou o sacerdote, que concluiu que “isto foi feito por pessoas que não têm temor a Deus”.



SEM POLÍCIA FEDERAL


Por telefone, na tarde desta segunda-feira (10), a assessoria de Comunicação da Polícia Federal em Belo Horizonte informou que até o momento o organismo não está na investigação do caso e sequer recebeu qualquer comunicado oficial sobre o ocorrido. Segundo o órgão, é necessário que as instituições responsáveis do estado encaminhem solicitação para que a PF aja, sendo que, por conta própria não há como isso ocorrer.







Fotógrafo freelancer teria sido morto por queima de arquivo




FABRICIANO – Não bastasse o choque da morte de “Rodrigo Neto”, os jornalistas tiveram que conviver com outro episódio trágico, poucos dias depois. Na esteira do primeiro crime, mais um profissional da área foi assassinado. No dia 14 de abril, foi executado a tiros o fotógrafo freelancer e colaborador do Jornal VALE DO AÇO, Walgney Assis Carvalho, 43 anos, mais conhecido como “Carvalho Loko”, supostamente por queima de arquivo. Carvalho foi morto em um pesque-pague de Fabriciano, local aonde ia com frequência. O autor do crime baleou-o pelas costas.

Há quase dois meses, o crime contra Carvalho também permanece sem respostas. Ele também atuava como fotógrafo voluntário da perícia da Polícia Civil há 16 anos. Especula-se que ele soubesse quem teria matado Rodrigo Neto, sendo morto por causa disso.  Muito falante, a alguns ele teria dito: “A polícia nunca vai descobrir quem foi” – como se estivesse certo de quem teria realizado o assassinato do repórter, embora não pudesse – ou não quisesse – revelar.

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