Desaparecimento de mototaxista: mais um drama com final infeliz

UM DOS CASOS ABORDADOS POR RODRIGO NETO, DA JOVEM TRABALHADORA QUE SUMIU MISTERIOSAMENTE EM IPATINGA NO ANO DE 2005, ESTÁ PRÓXIMO DE UM DESFECHO TRISTE: AS INVESTIGAÇÕES NÃO LEVARAM A LUGAR ALGUM.


 IPATINGA - Quem conheceu o radialista e bacharel em Direito Rodrigo Neto, 38 anos, covardemente assassinado com três tiros no último dia 8, no bairro Canaã, quando deixava uma conhecida barraca de churrasquinho, sabia que ele não descansava até que os casos tivessem solução. Os desaparecimentos, especialmente, chamavam a atenção do radialista, pela forma como devastam famílias; e como deixam impunes, em alguns casos, pessoas que têm sangue inocente nas mãos. Tanto que, em um dos programas da Rádio Vanguarda, onde trabalhava, chamado “Histórias que o tempo não apagou”, com relatos de casos sem solução, criou uma série: “Desaparecidos”. No programa radiofônico ele relembrou a história de Adriana Terume Onaka Debelli, que desapareceu misteriosamente em 2005. O inquérito deve ser finalizado nos próximos dias, mas sem qualquer alento para a família.



Adriana Terume Onaka Debelli, que tinha 19 anos e era descendente de japoneses, trabalhava em um ponto de mototaxistas na avenida Fernando de Noronha, no bairro Bom Retiro. Ela recebeu uma ligação por volta das 23h do dia 25 de fevereiro de 2005. Aparentemente, nada demais, era um pedido de corrida para uma localidade próxima a um supermercado conhecido na avenida Orquídea, bairro Bom Jardim. Era uma situação tão corriqueira, que ela tinha marcado com os outros colegas de profissão de se encontrarem depois, em frente ao Clube dos Aposentados, no Bom Retiro, pois haveria algumas corridas naquele local. Adriana era conhecida por ser muito trabalhadora. Na época que morou no Japão, trabalhava cerca de 14 horas por dia junto com o pai.

A última vez que Adriana foi vista com a sua moto Honda Titan azul, 125cc, placa GZZ-8317, foi por volta das 23h40, em um posto de gasolina na rotatória próxima ao bairro Caravelas e junto à BR-381. Por volta das 23h30, ela abasteceu a moto com R$ 5, o que lhe daria autonomia para rodar 70 quilômetros. Possivelmente, pelo horário, ela já teria realizado a corrida e estaria reabastecendo o veículo. Depois disso, ninguém mais viu a jovem, ou pelo menos afirmou tê-la visto. No mototáxi, receberam ainda uma ligação procurando a ‘japonesinha’, como era conhecida, para uma corrida do Horto ao Santa Mônica. Mas quando perguntaram quem queria a corrida, a pessoa do outro lado desligou.



Trabalhadora

O pai de Adriana, João Davidson Castro Debelli, de 44 anos, revelou em reportagens na época o perfil de sua filha. “Eu ofereci uma Twister zero para ela, para ela viajar, passear, para não mexer com isso. Mas ela me disse que aprendeu comigo a trabalhar, a gente só consegue as coisas trabalhando, e que estava unindo o útil ao agradável, ganhando seu próprio dinheiro. Ela me disse também que era a única mototaxista da cidade, que carregava muitas mulheres, que lhe davam preferência. Eu conhecia a índole dela, a honestidade dela. As investigações apuraram que ela não tinha envolvimento com drogas, com nada errado, como muita gente falou. Não tem motivo para ninguém querer ter feito mal a ela”, declarou o pai.

João Debelli residia no Japão e só veio para o Brasil depois do sumiço da filha. Ele trabalhava como engenheiro de projetos da empresa Toyota e ficou dez anos no país asiático. Na mesma entrevista, ele afirmou não ter esperança de reencontrar sua filha com vida. “Não tenho notícia nenhuma dela. Do jeito que começou está até hoje. Não tenho mais esperanças de encontrá-la viva. Não faço a mínima ideia do que possa ter ocorrido”, disse, na ocasião.



Apelando a uma vidente

Em outra reportagem, esta para o jornal Estado de Minas, João afirmou que, no desespero de encontrar Adriana, viajou boa parte do Brasil em busca de pistas. “Cheguei a ir até o Mato Grosso do Sul, pois fiquei sabendo que lá tinha uma vidente que descobria tudo. Ela disse muita verdade, mas não onde minha filha estava”, lembrou.

João Debelli declarou que também esteve no Paraná, São Paulo e em outros estados em busca de notícias de Adriana. “Aqui no Vale do Aço, estive em todas estas pequenas cidades da região à procura de minha filha”, complementou.

Adriana morou por oito anos no Japão e quando desapareceu havia acabado de passar em 8º lugar no vestibular de Direito em uma faculdade de Belo Horizonte. Ela também havia sido aprovada em Turismo, em outra faculdade.


O desaparecimento do processo



Em 2007, Rodrigo Neto procurou o processo no Fórum da Comarca de Ipatinga. Ele fora instaurado pelo delegado Geraldo Magela. Contudo, a exemplo da mototaxista, o processo também desapareceu misteriosamente.

O juiz diretor do Foro na época, Evaldo Gavazza, se surpreendeu com o fato e disse que era a primeira vez que algo assim acontecia. O inquérito foi reativado, e na época foi dito que não atrapalharia nas investigações, apenas por um motivo: a justiça também estava na estaca zero.

Quanto ao pai de Adriana, pensava diferente. “É uma coisa que não tem explicação. Por que justamente o inquérito dela desapareceu na mesa do promotor? Misteriosamente sumiu. Ninguém sabe para onde foi, ninguém viu. Só porque tinha pouco volume? Não houve avanço nenhum na investigação. E por que em uma investigação assim, o inquérito sumiria? Deve ter alguma coisa grande por trás”, especulou o pai.

Para piorar ainda mais, o delegado regional na época, Sebastião Rodrigues Costa, disse que não havia cópias de depoimentos colhidos, com pessoas ligadas ao caso do desaparecimento da mototaxista, sendo que as investigações recomeçariam do zero, e todos os depoimentos deveriam ser refeitos.

“Um delegado, um procurador, um juiz federal recebe para fazer o seu melhor. Eu sou um profissional. Se você me mandar projetar um carro, vou projetar um carro bom. É assim que deve ser feito. Não importa quanto receba. Se aceitou o cargo, tem que cumprir a função”, disse João Debelli, cobrando das autoridades uma ação.



Inquérito será finalizado

“O senhor acredita em crime perfeito?”, perguntou uma vez Rodrigo Neto a João Debelli, que respondeu. “Até então não acreditava. Mas não sei mais. Tem que ter uma ponta, uma fresta. Se não for solucionado, vai ser o primeiro crime perfeito da história da humanidade”, disse o pai, que expressou nesta frase toda a sua frustração com o caso.

Desde o final de 2011, o inquérito está nas mãos da delegada Irene Franco, responsável pela Delegacia de Crimes contra a vida. Ela refez algumas linhas de investigação, reinquiriu algumas testemunhas e familiares. “Uma das linhas de investigação era que o suspeito seria o namorado de Adriana na época, mas não avançou”, disse a delegada.

Ela revelou que, nas próximas semanas, o inquérito de Adriana Debelli deverá ser finalizado. “Estamos aguardando uma resposta oficial do IML de Belo Horizonte, sobre a comparação de um DNA com o de Adriana, que já sabemos extraoficialmente que deu negativo. Infelizmente, vamos ter que finalizar o processo sem definição de autoria e sem confirmação de morte. Não podemos nem apontar um crime. Temos indicações de que houve um, mas não temos provas para confirmar isso. Tudo aquilo que eu como delegada vislumbrei que poderia ser feito, eu fiz. O sumiço do inquérito no Fórum deu prejuízos. Pessoas que não puderam ser ouvidas novamente, detalhes que não foram possíveis reproduzir. Não posso afirmar que a falta dessas informações foi decisiva para o ponto que estamos hoje, que isto nos impediu de concluir a investigação, mas o fato é que chegamos em um ponto onde não há mais nenhuma linha a ser investigada, e vamos finalizar o caso”, declarou a delegada Irene.




Desrespeito à dor do pai




No dia 8 de maio de 2008, a ossada de uma mulher foi encontrada por funcionários de uma empreiteira da Cenibra em um matagal na localidade conhecida como Projeto Garapa, no distrito de Perpétuo do Socorro (Cachoeira Escura), em Belo Oriente. Os restos mortais, que estavam a cerca de dois quilômetros da BR-381, foram recolhidos e levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Ipatinga.  Foi levantada a hipótese de a ossada ser de Adriana. Comunicado do fato pelo auxiliar de necropsia do IML, Nilton de Oliveira, o ‘Pé-na-Cova’, João Debelli levou ao Instituto radiografias do corpo e da arcada dentária da filha, que tinha uma fratura no pulso decorrente de um tombo de moto no Japão, em 2004. Na ocasião, ela também sofreu um esmagamento da face, próximo ao olho esquerdo. Havia muitas semelhanças entre os restos mortais localizados em Cachoeira Escura e as características de Adriana. No entanto, dias depois, foi possível constatar que não eram de Adriana, o que aumentou a angústia de João.

As únicas pistas que João recebeu se mostraram falsas. Momentos depois do desaparecimento, ele teria recebido um trote de um adolescente pedindo R$100 mil pelo resgate, entre outros trotes e incidentes. “Houve trotes, brincadeiras de mau gosto, pessoas tentando extorquir dinheiro, e eu tive que me safar de várias coisas”, revelou.

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